Título: Poesia em conflito: marcas identitárias na poesia guineense contemporânea de Odete Semedo, Saliatu da Costa e Tony Tcheka.
Data da defesa: 23/01/2017
Local: Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ
Esse trabalho examina como a poesia em língua portuguesa da Guiné-Bissau retrata literariamente os conflitos recentes pelos quais o país tem passado e de que forma tais conflitos literariamente elaborados têm moldado a identidade guineense em alguns aspetos.
Buscamos apresentar uma revisão acerca dos conceitos de identidades e nação bem como uma exposição dos elementos que figuram essa questão, cuja base historiográfica, do ponto de partida desta pesquisa, principia nos conflitos datados das lutas pela independência até os dias atuais.
Desse modo, ao proceder uma análise poética buscamos desvendar como essa narrativa se desenvolve nas obras No fundo do canto (2007), de Odete Semedo, Entre a Roseira e a Pólvora, o Capim (2011), de Saliatu da Costa e Desesperança no Chão de Medo e Dor (2015), de Tony Tcheka, uma vez que essas obras poéticas estão balizadas em um contexto de conflitos intensos na Guiné-Bissau.
A razão para essas escolhas é que, ao produzir obras poéticas que retratam os momentos conflituosos da pátria-mãe, os autores contribuem para a contestação e negociação das identidades no país, uma vez que é na arena do conflito que ela passa a ser uma questão.
O narrar de um conflito é antes de mais nada, e sobretudo, resgatar e reviver uma memória. É relembrar aos indivíduos de uma “nação” as agruras de um passado amargo, intragável e inesquecível, de modo a criar uma marca de resistência que impeça esse passado de se transformar numa ameaça futura.
Deste modo, observamos que ao produzir essa poética esses autores contribuíram para criar uma esfera de compartilhamento identitário e forjar uma união nacional, tal como Amílcar Cabral parece ter feito de forma bastante convincente. Constatamos que os conflitos descritos literariamente na Guiné-Bissau são significantes para se entender a dinâmica de produção de uma literatura de resistência, assim como para evidenciar o reconto da história das guerras, golpes e abalos nacionais, e, no limite, negociar e forjar uma identidade nacional e ressignificar o sentido da nação.