Influência da cultura hebraica na língua portuguesa

O livro, intitulado “Nova Visão sobre ‘Hebraísmos’ na Língua Portuguesa”, quase coincidiu com a Exposição Judaica nas Colecções da Biblioteca Nacional de Portugal”, presente ao público entre 23 e 29 do corrente mês.

“No meio da análise desse tema fui encontrando novas leituras do que será um ‘hebraísmo’ no seio da grande língua que é o português, descobrindo e discutindo domínios menos citados dessa influência. Foi o resultado dessas pesquisas que decidi agora editar”, referiu em declarações à Lusa o autor de 77 anos, licenciado em Filologia Românica pela Faculdade de Letras de Lisboa, doutorado em Estudos Portugueses pela Sorbonne em 2004, e autor de um método do ensino do Francês.

“O objetivo é apresentar alguns ângulos de visão do que pode ser o hebraísmo. Não é uma noção estrita nem limitada do que é o hebraísmo. Essa é a visão oficial”, esclarece Pedro da Silva Germano, que, apesar de aposentado da docência em Portugal, Angola, Senegal e França, mantém colaboração regular na imprensa regional, participação em conferências e colaboração em diversas publicações.

O académico precisa que neste livro, publicado pela Chiado Editora, tentou explanar “o que seria a visão alargada de múltiplos ângulos em diversas situações, em muitas épocas, de tudo o que de alguma maneira se poderá ligar a essa noção de hebraísmo na língua portuguesa”.

Um hebraísmo na língua portuguesa mas com “exclusão das visões e opções estrangeiras”, como acentua, ao optar por selecionar “apenas a cultura portuguesa relacionada com o hebraísmo… Cultura não é só língua”, repara.

Para prosseguir o seu objetivo, reconhece que uma das dificuldades do livro consistiu na difícil adequação do seu texto ao nível que poderia usar e das referências e método a seguir na transcrição de ”estranhas línguas antigas” incluídas na família semita. “Como deveria apresentá-las a um público de nível médio?”, interrogou-se.

“A referência inicial ao termo ‘hebraísmos’ foi colocada entre comas, isto é, não se trata do hebraísmo no sentido mais usual, tradicional: será tudo aquilo que considero que de alguma maneira pode estar relacionado com a cultura hebraica”, esclarece.

Na nota prévia deste ensaio de 213 páginas, o autor já considera que a maior parte das palavras e expressões portuguesas que não se encontram em todas as línguas românicas, em particular no francês e no castelhano, “serão quase sempre explicáveis por qualquer relação com uma língua semita, oriental”, apesar de alertar que esta pesquisa estará “sempre incompleta”.

O autor, que também rejeita a “panaceia explicativa” da origem “quase só latina do português”, salienta ainda nesta introdução que com os judeus sefarditas “aprendemos a relacionar e decifrar termos, conceitos e hábitos culturais, incluindo a compreensão de alguns hebraísmos por eles identificados como tal”.

No ensaio, dirigido ao grande público, o autor diz ter sido organizado “de forma torrencial e como se pertencesse a um novo e inusitado ramo da linguística, a arqueologia linguística”, mas com contornos e bases de pesquisa “ainda pouco definidos e percorridos”.

Pedro da Silva Germano, como faz questão de sublinhar, não teve a intenção de se opor à dita visão tradicional que cita quase só as influências bíblicas e religiosas. Certamente, estas não são postas em causa; pelo contrário, tende a alargá-las em muitas direções, entre elas a dos nomes próprios, um dos segmentos de leitura aconselhada.

PCR // HB – Lusa/Fim

Foto: Bíblia em hebraico exposta na Biblioteca Nacional, em Lisboa a 6 de novembro de 1991. Manuel Moura / Lusa

 

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