Não imaginava, há alguns dias, ter o prazer de tomar a palavra neste auditório do Instituto Superior de Engenharia de Coimbra, no início do 2º Encontro Internacional do Ensino do Português.
Mas o Doutor Eugénio Anacoreta Correia, Presidente do Conselho de Administração do Observatório da Língua Portuguesa, convenceu-me sem dificuldade da importância de dar a conhecer um organismo que partilha os mesmos ideais e as mesmas preocupações com todos os professores, portugueses e estrangeiros, mobilizados em Coimbra durante 3 dias pela Escola Superior de Educação, com a ajuda de numerosos e generosos parceiros.
Respondi de bom grado ao apelo da missão que me confiou, e que me permite rever, com muita alegria e alguma saudade, tantos rostos familiares. Como não me sentir em família no meio de vós? Sempre me mantive fiel à dupla postulação da minha Licenciatura em Filologia Românica e nunca separei os interesses das duas línguas. Creio mesmo poder afirmar que a experiência das questões da francofonia esclarece directamente a minha visão da lusofonia e o meu comprometimento lusitanista.
Por isso aplaudi a fundação de um Observatório da Língua Portuguesa mesmo se, acreditando no linguista Ferdiand de Saussure, não sendo a língua uma entidade e não existindo senão nos sujeitos falantes, seria necessário, com todo o rigor, falar de um Observatório dos Lusófonos.
E mesmo a palavra Observatório é interessante e problemática, se nos reportarmos ao Dicionário da Língua Portuguesa da Academia das Ciências, e nele descobrirmos, com surpresa, que o sentido figurado que lhe atribuímos não é reconhecido pelos Académicos: segundo os lexicógrafos, observamos os movimentos dos astros, da caça ou do inimigo e nada mais… Significa isto que a língua, tal como a praticamos, está sempre em avanço relativamente à dos gramáticos, e é apenas observando a sua evolução e a sua expansão (ou, recuo, o que não é felizmente o caso do português!) que podemos aspirar ao direito de prescrever ou legislar.
Assim o nosso Observatório é uma espécie de lugar avançado, o contrário, em suma de um Conservatório. O Dr. Francisco Ramos conduzir-vos-á, dentro de brevíssimos instantes, numa curta visita ao nosso site.
Do acordo ortográfico às reivindicações políticas a favor da manutenção do português nos concursos universitários na Europa, o leque dos temas sobre os quais podeis ter informação ou intervir é vasto. E quem, melhor do que um professor de português pode fazer sugestões para melhorar e enriquecer este site?
Assinalarei eu própria uma fraqueza do nosso dispositivo. Falta-nos ainda uma ferramenta, ou melhor uma arma para a defesa da língua portuguesa. Está por criar, ao lado do nosso Observatório ou no seu âmbito, uma comissão encarregada de inventar vocábulos capazes de substituir as palavras anglo-saxónicas que atravessam o nosso discurso quotidiano. Uma tal comissão existe em França. Como traduzir termos como spin-off, brokerage, stakeholder, e-learning, benchlearning, benchmarking, overheads, outliers?
Não extraí estes obscuros vocábulos de nenhuma revista especializada mas de um programa de acção universitária recentemente redigido por mim própria! Espero que venha a ser possível, em breve, escrever um português ao mesmo tempo verdadeiramente contemporâneo, aberto a todos os conceitos novos, e transparente, isto é, fiel às suas raízes e conforme à sua fisiologia. Nesta perspectiva, o Observatório tem também como razão de ser, heurística e pedagógica, estimular a investigação e fazer nascer vocações de filólogos modernos.
Há nesta palavra fora de moda de filologia uma tonalidade afectiva de que se encontra privada aquela outra, mais fria, de linguística. É contudo o amor pela língua portuguesa que nos reúne esta manhã e que inspira as numerosas comunicações que seguirão. Amor feliz pois que o futuro nos sorri. Amor ardente pois que esse futuro é tropical.
Os astros são-nos favoráveis. É o nosso Observatório quem vo-lo diz!
Cristina Robalo Cordeiro
10 de Fevereiro de 2011
Fotos de João Cruz