Caracas, 12 jul (Lusa) – A Igreja Católica denunciou hoje que está a haver um aumento “ameaçador” do poder militar na Venezuela, país onde é crescente a insegurança, a impunidade e a criminalidade.
“Na vida pública, cresce a insegurança, a impunidade e a repressão militar. O discurso belicista e agressivo da chefia oficial faz a vida cada dia mais difícil. A prédica constante de ódio, a criminalização e castigo a toda dissidência afetam a família e as relações sociais. Perante esta situação o aumento do poder militar é uma ameaça à tranquilidade e à paz”, afirma a Igreja em comunicado.
O documento, divulgado hoje em Caracas, e lido durante uma reunião extraordinária da Conferência Episcopal Venezuelana (CEV), dá conta que o “auge da criminalidade e da impunidade entorpece a ocupação ordinária das pessoas e em cidades e aldeias grandes e pequenas, verdadeiros ‘toques de queda’ (estado de sítio)”.
“Há poucos dias em Mérida foram agredidos transeuntes, entre eles um grupo de seminaristas menores de idade, foram golpeados e desnudados, violando os seus direitos à dignidade e ao respeito sem que nenhuma autoridade pública interviesse para os proteger”, sublinha.
Segundo a CEV, “as recentes desordens em Cumaná, em Tucupita, assim como as tentativas de pilhagens e bloqueios de estradas por protestos populares em diferentes regiões do país constitui uma expressão do crescente mal estar social”.
“Uma democracia fissurada. O estado de direito consagrado na Constituição se debilitou, vivemos praticamente ao arbítrio das autoridades e funcionários públicos que tendem a converter-se nos sensores da vida, do pensamento e da atuação dos cidadãos. Tais atitudes e procedimentos são inaceitáveis e a identidade cultural do venezuelano se reduz e até se perde quando se valoriza unicamente se está vinculada ao projeto político imperante”, afirma.
Os bispos católicos afirmam ainda que “o Governo (do Presidente Nicolás Maduro) e os outros poderes que têm a responsabilidade de ouvir e concertar com todos os setores não estão fazendo o suficiente para reconstruir”.
“O diálogo sincero e construtivo, o exercício da política na sua conceção mais nobre, como buscado bem comum, por mais difíceis que pareçam deve continuar a ser os caminhos que devemos transitar. Não se pode dialogar se não se reconhece em primeiro lugar a existência e a igualdade do outro. Ignorá-lo ou desclassificá-lo como interlocutor fecha toda a possibilidade de superar o conflito”, afirma.
A Igreja Católica reclamou ainda que o Conselho Nacional Eleitoral “tem a obrigação de cuidar o processo de referendo revogatório (do mandado do Presidente Nicolás Maduro) para que se realize este ano”.
“É um caminho democrático, um direito político contemplado na Constituição. Impedi-lo ou demorá-lo com múltiplos travões é uma medida absurda que põe em perigo a estabilidade política e social do país, com fatais consequências para pessoas, instituições e bens”.
Por outro lado denuncia que está a aumentar “o número de cidadãos venezuelanos internados nos cárceres e em distintos lugares de jurisdição policial, injustamente privados de liberdade, muitos deles por razões políticas”.
“A grande maioria encontra-se em condições desumanas e carece de apoio juridico. Estas pessoas, sendo inocentes, devem sair em plena liberdade ou pelo menos serem julgadas em liberdade”, afirma o documento.