Gumbé, a música de unidade nacional na Guiné-Bissau que deu origem ao samba

Bissau, 04 mar 2023 (Lusa) – No “American Corner” da Escola Superior Tchico Té, em Bissau, músicos guineenses e norte-americanos discutem ritmos musicais e falam sobre o gumbé, considerada a música de unidade nacional na Guiné-Bissau e que deu origem ao samba.

“O gumbé é para nós como o fado é para os portugueses. Nós entendemos que é onde nós nos encontramos. Quando digo nós, estou a falar deste grande mosaico étnico que compõem a Guiné-Bissau”, afirmou à Lusa Juca Delgado, músico e compositor guineense.

Juca Delgado explicou que todas as “etnias fazem gumbé de alguma forma”.

“É aquela música baseada essencialmente nos nossos instrumentos de percussão e que foi alargando e evoluindo e acabou por chegar a toda a Guiné-Bissau, a norte, a sul, a leste, oeste” do país, disse o músico, salientando que é onde os guineenses se expressam.

Mas, segundo o compositor, o gumbé tem “outra coisa ainda mais abrangente”, que é o crioulo.

“O crioulo acaba por ser aquela língua que nos liga a todos e o gumbé normalmente canta-se em crioulo. Não terá começado assim, mas acabou por assumir esse papel. É um papel que nos junta. É a música da unidade nacional, do crioulo, que é também a nossa língua de unidade”, explicou.

Por isso, acrescentou Juca Delgado, o gumbé tem um grande peso na “vivência e sociedade” guineenses, considerando que este estilo musical “está sempre presente”.

Aquele tipo de música não é só tocado na Guiné-Bissau, mas em muitos países da África Ocidental e Central, e foi levado pelos escravos para vários países do continente americano, incluindo o Brasil.

“Há uma relação muito grande. Nós temos o gumbé não só na nossa costa ocidental, mas também na áfrica central. O samba vem, e digo-o taxativamente, do gumbé, porque a matriz do gumbé é a mesma matriz do samba e se formos a ver toda a linha da escravatura para o Brasil, as pessoas que foram escravizadas e levadas para lá, levaram a sua música”, disse Juca Delgado.

“Temos razões para discutir, estudar e perceber a nossa cultura, a nossa Guiné-Bissau, no Brasil, não só no samba, mas também na bossa nova, que é outra história e que também lá está presente muito devido à música guineense”, salientou o compositor.

Para Juca Delgado, a bossa nova foi buscar inspiração ao singa, música da etnia guineense mancanha.

MSE // VM – Lusa/Fim

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