generalização do ensino bilingue em Cabo Verde?

Praia, 22 fev (Lusa) – As turmas de ensino da língua materna cabo-verdiana duplicaram num espaço de dois anos, uma experiência que as autoridades locais dizem que ajuda os alunos a melhorar o seu desempenho e a ter a consciência da identidade cabo-verdiana.

O crioulo é língua que os cabo-verdianos falam no dia-a-dia e sua introdução nos currículos escolares aconteceu no ano letivo de 2013/2014 em duas escolas-piloto na ilha de Santiago, mas neste momento foi alargado a oito escolas, mais duas na ilha de Santiago e duas na ilha de São Vicente.

O alargamento permitiu também aumentar o número de professores, que agora são 10 e também de alunos, que neste momento são 150.

Em declarações à agência Lusa no âmbito de um atelier de reflexão sobre a educação bilingue em Cabo Verde, a diretora nacional da Educação, Margarida Santos, disse que o ensino bilingue está a ser feito sem mexer nas variantes da língua materna do arquipélago.

“Em Santiago estamos a usar a variante local e os alunos escrevem a língua que falam e em São Vicente estamos a alfabetizar os alunos na variante de Barlavento, estão a usar a sua língua materna do dia-a-dia”, indicou.

Destacando o envolvimento dos pais, Margarida Santos salientou que a experiência está a ser muito benéfica para os alunos, que têm melhorado o seu desempenho e conhecimento.

“Há um desenvolvimento muito maior das crianças quanto utilizam a língua portuguesa porque já estão alfabetizados na língua materna. O desempenho é melhor. Mas não é só isso, é a questão da espontaneidade, da afirmação, da criatividade, de ter a disponibilidade para falar as duas línguas”, afirmou a responsável.

Margarida Santos referiu que o Ministério da Educação ainda não está a pensar na generalização do ensino bilingue no país, uma vez que há questões que dependem da sociedade e do Ministério da Cultura, sobretudo em que variante do crioulo elaborar os materiais didáticos.

“Se temos nove ilhas, não vamos fazer nove manuais de todas as disciplinas. Há essas questões que não dependem do Ministério da Educação”, sublinhou, considerando que a tutela da Educação quer mostrar a importância do ensino bilingue para o desenvolvimento das crianças.

Também disse que poderá ajudar a criança a falar outras línguas, mas usando sempre a sua língua materna como fator de comparação. “A criança tem possibilidades de conhecimentos que lhe permite fazer essa diferença e melhorar o seu desempenho nas duas línguas”, completou.

Segundo Margarida Santos, o atelier de reflexão sobre a educação bilingue, realizado no âmbito do Dia Mundial da Língua materna, que se assinalou no domingo, irá fornecer dados para que os políticos decidam “com mais consciência e o mais rapidamente possível sobre o futuro da educação bilingue em Cabo Verde”.

Na sua mensagem alusiva ao dia, escrita em português, o Presidente da República, Jorge Carlos Fonseca, apelou à reflexão sobre a preservação da língua materna, destacando a sua importância na elaboração da maneira de ser, de estar e de o cabo-verdiano abordar a vida.

“O instrumento que permite que o nosso passado comum esteja determinando o hoje e influenciando o nosso amanhã deve ser cultivado, consolidado e preservado. (…) Por isso, devemos refletir sobre a relação que mantemos com a nossa língua materna, sobre a sua utilidade na preservação da nossa memória coletiva”, disse o chefe de Estado.

RYPE // VM – Lusa/Fim

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