Fórum Macau como ponta de lança da China na lusofonia

A grande capacidade financeira de Pequim permitiu, por exemplo, abrir em 2010 um envelope financeiro de mil milhões de dólares (724 milhões de euros ao câmbio atual) na cooperação com a Lusofonia, mecanismo que permite fomentar projetos, mas que não abre uma janela tão ampla quanto inicialmente se pensava com limitações do financiamento.

O anúncio, feito em Macau pelo então primeiro-ministro da China Wen Jiabao, chegou num conjunto de revelações de apoios da China à Lusofonia, tudo para “elevar para um patamar ainda mais alto” as relações com os países de língua portuguesa e de “explorar novas áreas de cooperação, e não apenas as tradicionais”, disse na ocasião.

A aposta chinesa na cooperação através de Macau passa também pela formação de quadros lusófonos no centro de formação criado numa parceria do Fórum com a Universidade de Macau e que tem vindo a realizar ações regulares com os países de língua portuguesa, promovendo assim o conhecimento da realidade chinesa junto dos quadros lusófonos.

Por outro lado, e já na última reunião ministerial em 2013, um novo desafio foi lançado a Macau com a criação de três centros de cooperação entre a China e os países de língua portuguesa.

Até ao final de 2016, antes da realização da próxima conferência ministerial, Macau aposta, segundo o Secretário para a Economia e Finanças, Francis Tam, na criação dos centros de cooperação com a Lusofonia e que irão abranger serviços para as pequenas e médias empresas dos países de língua portuguesa, distribuição de produtos e exposição e convenções, mais janelas de oportunidade para o reforço das trocas comerciais e da entrada de produtos lusófonos na China.

Se as questões comerciais são importantes e a China tem elevados interesses económicos a defender, também a componente da ajuda passa por outras áreas como as infraestruturas em países mais desfavorecidos, como os africanos ou Timor-Leste, com suporte na construção de estradas, portos, aeroportos e escolas, que permitem, também, alargar horizontes às empresas nacionais chinesas, e a cooperação médica com a oferta de equipamentos essenciais a hospitais e centros de saúde.

Criado em outubro de 2003 com a China em “velocidade de cruzeiro” na sua expansão e a adaptar-se à sua nova condição de novo elemento da Organização Mundial de Comércio, o Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa tem, assim, alargado horizontes e está hoje assente no vincar da componente política que tem permitido aumentar as trocas comerciais.

Com as trocas comerciais e os investimentos em franco crescimento, a aposta de Pequim começou a alargar-se e vinca agora outras áreas tão diversas como a cultura e a educação – através de bolsas de estudo – sempre com Macau na agenda dos encontros e sempre com a promoção do papel da atual Região Administrativa Especial na promoção desse estreitamento de relações.

A lógica da cooperação parte sempre do mesmo princípio: “benefícios mútuos”, mas Pequim, mesmo desfavorecida na balança comercial – entre janeiro e março Pequim comprou à lusofonia produtos no valor de 19, 25 mil milhões de dólares (13, 88 mil milhões de euros), uma subida de 12, 12%, contra vendas de 9, 86 mil milhões de dólares (7, 11 mil milhões de euros), mais 8, 32% -, conquistou parceiros não apenas para produtos de extrema necessidade como o petróleo angolano, como para investimentos importantes, como nos casos da EDP e da REN, em Portugal.

A presença, em Macau, de representantes dos países participantes do Fórum contribui para que a todo o tempo exista um conhecimento real das necessidades dos membros e até São Tomé e Príncipe, afastado daquele mecanismo por manter relações diplomáticas com Taiwan, tem participado em reuniões, embora de forma discreta.

Sem perder a linha de orientação económica e comercial, o Fórum Macau alarga horizontes e vinca Macau, onde o português também é língua oficial, no papel de plataforma da China para o exterior, uma responsabilidade que a cidade assumia, de forma não oficial, quando na abertura da China ao mundo e Macau ainda governado por Portugal, servia de pequena janela para outras paragens.

JCS // PJA – Lusa/fim

Foto de família após a cerimónia de assinatura do “Plano de Acção para a cooperação economica e comercial” na 4ª Conferência Ministerial e Comemoração do 10º aniversário do estabelecimento do Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa, que decorreu em Macau, 5 de Novembro de 2013. CARMO CORREIA/LUSA

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