Miguel Pais Vieira, de 33 anos, fez o seu doutoramento em neurociência na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, e chegou aos Estados Unidos em 2009 para trabalhar com o professor Miguel Nicolelis, líder desta área de investigação.
O português é o primeiro autor de dois estudos, publicados a no final de fevereiro no “Journal of Neuroscience” e na “Scientific Reports”, que mostram como dois ratos podem usar apenas os seus cérebros para partilhar informação.
“É uma nova forma de comunicação, que não existe na natureza”, diz Miguel Pais Vieira à agência Lusa, garantindo que esta foi a primeira vez que os cientistas conseguiram que dois animais comunicassem diretamente através dos seus cérebros.
O investigador defende que “a neurociência não pode estar numa torre de marfim, tem de encontrar respostas para o mundo à sua volta” e que esta descoberta “pode ter aplicação em tratamentos para pacientes que sofreram um AVC ou um traumatismo craniano”.
Em experiências anteriores, os cientistas já conseguiam ler as ondas cerebrais de animais e provocar respostas com estímulos elétricos usando um computador; nesta investigação, o desafio era outro: “Porque é que, em vez de termos um cérebro a comunicar com uma máquina, não o temos a comunicar diretamente com outro cérebro?”
Primeiro, os cientistas ensinaram dois ratos a resolver um puzzle simples que, quando resolvido, lhes oferecia uma recompensa.
Numa segunda fase, colocaram os animais em celas diferentes e uniram os seus cérebros usando uma rede de fios com um centésimo do diâmetro de um fio de cabelo; finalmente, colocaram um dos animais perante o puzzle e verificaram se o segundo rato recebia a resposta do puzzle e a reproduzia.
Os cientistas chegaram mesmo a colocar um rato no seu laboratório, na Carolina do Norte, a comunicar com um rato na Universidade de Natal, no Brasil, que é parceira da investigação.
Neste momento, a equipa está a desenvolver uma experiência com mais do que dois animais.
“Neste estudo tivemos uma performance de 70%. O que queremos perceber agora é se, com mais do que um animal, a performance melhora”, explica Miguel Pais Vieira.
O líder do departamento onde trabalha o português, Miguel Nicolelis, acredita mesmo que no futuro será possível colocar vários humanos em partes diferentes do mundo a trabalhar na resolução de um mesmo problema.
“Podemos ter milhões de cérebros a trabalhar o mesmo problema e a partilhar uma solução”, diz.
AYS // VM – Lusa/Fim
Foto: “A Grande Viagem, A Odisseia da Espécie Humana”, Museu Nacional da Natureza e da Ciência, Tóquio, Japão, 15 de março de 2013. EPA/FRANCK ROBICHON