Festa Literária de Paraty começa hoje em homenagem a Hilda Hilst

Redação, 25 jul (Lusa) – As escritoras portuguesas Maria Teresa Horta e Isabela Figueiredo juntam-se a autores como o norte-americano Colson Whitehead e a franco-marroquina Leila Slimani na festa literária de Paraty (FLIP), que este ano homenageia Hilda Hilst e começa hoje.

A 16.ª edição da FLIP decorre até 29 de julho naquela cidade do estado do Rio de Janeiro, no Brasil, e conta com 33 convidados brasileiros e estrangeiros, três dos quais portugueses: as duas escritoras e o diretor de som Vasco Pimentel, segundo a informação disponível no ‘site’ do evento.

A autora homenageada é a poeta, ficcionista e dramaturga brasileira Hilda Hilst (1930-2004), autora de uma obra singular, que abordou o amor, o sexo, a morte, Deus, a finitude das coisas e a transcendência da alma.

Estes são, aliás, os temas sobre os quais se debruçam este ano as mesas literárias, num registo mais “íntimo” do que o do programa de 2017, dedicado ao escritor Lima Barreto, sobre as questões sociais e políticas do seu tempo, explica a curadora, Joselia Aguiar.

Entre os destaques desta edição está o escritor norte-americano Colson Whitehead, vencedor do Prémio Pulitzer de ficção com o romance “A Estrada Subterrânea”, sobre uma fuga de escravos, editado em Portugal pela Alfaguara, a franco-marroquina Leila Slimani, vencedora do Prémio Goncourt com “Canção Doce”, editado também pela Alfaguara, sobre uma ama que mata duas crianças, ou o franco-congolês Alain Mabanckou, finalista do Prémio Man Booker Internacional.

O programa começa na noite de hoje, com a atriz Fernanda Montenegro e a compositora Jocy de Oliveira, pioneira na música de vanguarda no Brasil, agora dedicada à ópera multimédia. Juntas celebram a sua companheira de geração Hilda Hilst, “a arte mais transgressora”.

Na manhã seguinte, a realizadora Gabriela Greeb e o designer sonoro Vasco Pimentel vão apresentar e falar sobre as fitas magnéticas que Hilda Hilst gravou na década de 1970, e que registaram a voz, a escuta e as divagações literárias e existenciais da autora.

No mesmo dia, a escritora Maria Teresa Horta dialogará, através de vídeo, com as poetas brasileiras Júlia de Carvalho Hansen e Laura Erber, ambas em Paraty, autoras influenciadas pela lírica portuguesa e com pontos em comum com Hilda Hilst.

A argentina Selva Amada, autora de histórias reais de feminicídio – e de quem a D. Quixote publicou “Raparigas Mortas” – e a feminista e ativista negra Djamila Ribeiro vão conversar sobre como fazer da literatura um modo de resistir à violência.

A fechar o dia, o escritor brasileiro Sergio Sant’Anna, que abordou o desejo, a solidão e a morte, relembra a sua trajetória com Gustavo Pacheco, um autor brasileiro estreante, que lançou recentemente em Portugal, pela Tinta-da-China, “Alguns Humanos”.

No dia 27, Alain Mabanckou fala sobre a sua trajetória e o seu pensamento, abordando o absurdo, o riso, as culturas africanas e a crítica da razão negra, numa entrevista ao vivo.

André Aciman e Leila Slimani debatem a liberdade de escrever e a escolha de temas tabu, ao passo que a ensaísta Eliane Robert Moraes vai abordar a dimensão corpórea e mística da escrita de Hilda Hilst, numa mesa com leituras feitas por Iara Jamra, atriz que encarnou a personagem mais famosa da autora, Lori Lamby, uma menina de oito anos que vende o corpo incentivada pelos pais, no livro “O caderno rosa de Lori Lamby”.

O dia seguinte abre com um encontro entre Jocy de Oliveira e Vasco Pimentel, para conversarem sobre a criação de universos sonoros, e prossegue com o historiador e biógrafo inglês Simon Sebag Montefiore, que explicará como retrata figuras políticas nos seus pormenores íntimos, e com a escritora Isabela Figueiredo, nascida em Moçambique, que tratou temas como o racismo, em “Caderno de Memórias Coloniais”, e a relação com o corpo e excesso de peso, em “A Gorda”, que falará com Juliano Garcia Pessanha sobre a escrita de diários, memórias, o corpo e a nudez.

Segue-se uma sessão com Colson Whitehead e o autor estreante Geovani Martins, um jovem da favela do Vidigal que criou uma forma própria de narrar e usar as palavras, e que lançou recentemente “O Sol na Cabeça”, uma coletânea de contos que, ainda antes de ser publicada, já tinha sido vendida a nove países, e cujos direitos de adaptação ao cinema já foram negociados.

A russa Liudmila Petruchévskaia, com livros editados em Portugal pela Relógio d’Água, e cujos contos de horror e fantasia lhe valeram já comparações a Gogol e Alan Poe, fecha a sessão de dia 28.

Para o último dia está reservada uma sessão entre Iara Jamra, o compositor Zeca Baleiro e o fotógrafo Eder Chiodetto, que fizeram obras baseadas em Hilda Hilst, e que recordam os encontros com a autora e as marcas que a experiência deixou nas suas trajetórias.

AL/TDI // MAG/TDI – Lusa/Fim
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