A linguagem fez-se para que nos sirvamos dela, não para que a sirvamos a ela.
… Só há três línguas com um futuro popular – o inglês (que já tem uma larga difusão), o espanhol e o português.
(…) Assim línguas como o francês, o alemão e o italiano só poderão ser europeias: não têm poder imperial. Enquanto a Europa foi o mundo estas dominaram, e triunfaram mesmo sobre as outras três, pois o inglês era insular e o espanhol e o português encontravam-se num dos seus extremos. Mas quando o mundo passou a ser o globo terrestre este cenário alterou-se.
Será, portanto, numa destas três línguas que o futuro do futuro assentará.
O português é (1) a mais rica e mais complexa das línguas românicas, (2) uma das cinco línguas imperiais, (3) é falado, senão por muita gente, pelo menos do Oriente ao Ocidente, ao contrário de todas as línguas menos o inglês, e, até, certo ponto o francês, (4) é fácil de aprender a quem já saiba espanhol (castelhano) e, em certo modo, italiano – isto é, não é uma língua isolada (5) é a língua falada num grande país crescente – O Brasil (podia ser falada de Oriente a Ocidente e não ser assim falada por uma grande nação).
Estes argumentos não pesarão se outras circunstâncias os não apoiarem.
Fernando Pessoa, A Língua Portuguesa. Obras de Fernando Pessoa, Lisboa, Assírio & Alvim, 1997, p. 73, 149 e 150, 152
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