Em declarações à agência Lusa, José Carlos Janela, que dirige, desde agosto de 2012, a secção portuguesa do Liceu Internacional de Saint-Germain-en-Laye, a 30 quilómetros de Paris, considerou que o investimento aqui feito “é importantíssimo para o futuro”.
“Muitos destes alunos vão ser quadros de empresas, jornalistas, professores universitários, e – por que não? – políticos. Alguns regressam [a Portugal], mas muitos ficam aqui. Essa gente amanhã vai bater-se por Portugal. Onde estiverem vão ser nossos parceiros”, disse.
“É uma pena que os nossos responsáveis políticos – e não estou a referir-me apenas ao Governo atual – muitas vezes não tenham essa noção”, afirmou, acrescentando considerar que a quem vem governando falta “esta visão das coisas”.
Este cenário, disse ainda, ganha outra dimensão se se considerar que os alunos que frequentam a secção de português deste liceu não são apenas portugueses: há, por exemplo, alunos brasileiros, franceses e angolanos.
Portugal está, em número de alunos (430, desde a escola primária até ao fim do secundário), no 5.º de 14 lugares, atrás das secções norte-americana, britânica, alemã e espanhola.
A secção, que comemora este ano os seus 40 anos de existência, “foi crescendo graças ao empenho – à militância – de alunos, pais e professores”, explicou José Carlos Janela.
“O orgulho saudável de querer difundir e fazer conhecer a nossa língua e a nossa história leva-nos a ultrapassar a falta de meios”, acrescentou.
Os salários dos professores e “uma pequena parte das despesas correntes” são pagos pelo Estado português. A secção faz face às restantes despesas com a ajuda da associação de pais (APASPLI), através das quotas, de entre 150 e 200 euros, que as famílias pagam anualmente.
O diretor explicou que “tudo o resto é gratuito” e que esta secção “está aberta, tanto ao filho do ministro, como ao filho do eletricista”. Aqui, disse, cultiva-se a “elite republicana, a elite do trabalho”, e não “a elite do dinheiro, ou da importância social”.
“Temos tido alunos brilhantes, independentemente da sua origem social e dos recursos financeiros das famílias. Penso que isso é também um orgulho para Portugal”, acrescentou.
José Carlos Janela afirmou também que a decisão tomada pelo Governo em novembro de 2011 de cortar 40 postos de professores de português na rede internacional não afetou diretamente a secção que dirige, mas assinalou que ela obrigou os seus docentes a um esforço acrescido: “Alguns dos nossos professores (são 11 no total) passaram a fazer o trabalho extraordinário de ir assegurar alguns desses cursos, trabalhando ao sábado e ao fim da tarde”, disse.
Embora compreenda a preocupação do Governo em “minorar o mais possível” as consequências do fecho dos cursos, o diretor assinala que esta redução de meios retira aos docentes do Liceu Internacional tempo para as atividades extracurriculares, “que são o que torna a secção conhecida e o que mostra que ela é como as outras”.
“Para apoiar a irradiação da língua portuguesa, se não nos puderem dar outro apoio, que nos deem apoio moral”, concluiu.
JYF // VM.
Lusa/Fim
Foto (arquivo): O Presidente da República, Mário Soares, visita o Liceu Internacional de Saint-Germain-en-Laye, em Paris, a 19 de outubro de 1989. Guilherme Venâncio / Lusa