Falar a mesma língua não é sinónimo de entendimento

Os seres humanos falam línguas diferentes nos diferentes países.

Até podem falar a mesma língua em países diferentes mas terão certamente sotaques também eles diferentes. Ora, se até dentro do mesmo país existem sotaques diferentes para a mesma língua, por que não em diferentes países também?

Já os animais, independentemente das fronteiras em que se encontram, falam todos a mesma língua.

Os cães ladram de igual forma em Inglaterra e em Portugal, em Espanha ou França, ou em qualquer país da América do Sul, ou do Norte. Os leões a mesma coisa, os elefantes, os crocodilos, os gatos, as hienas e as baleias. Claro que o Chiuaua tem a voz mais fina que o Pitbull, mas isso não tem nada a ver com a língua.

Os cavalos relincham todos da mesma maneira. Ou será que o Cavalo Lusitano tem um sotaque diferente do Árabe e simplesmente nós é que não os percebemos? Ou será que, além de sotaque, falam mesmo línguas diferentes? É pouco provável.

As únicas ocasiões em que os animais falam línguas diferentes é quando isso vem escrito nos livros dos diferentes países. Em Portugal, os cães ladram «ão ão», já em França ladram «béu béu». Os gatos miam «miau» em Portugal e «meow» em Inglaterra. Até os galos, que cantam todos da mesma maneira ao amanhecer, aparecem escritos de forma diferente em português e em inglês.

Ora esta questão da língua é, por si só, uma questão de identidade nacional, de herança cultural. É algo que existe para diferenciar os saberes de cada país. Podemos olhar para alguém e dizer que essa pessoa perece alemã, até ela falar e percebermos que, na verdade, é holandesa. Podemos olhar para outra pessoa e dizer que é portuguesa até ela abrir a boca e percebermos que é espanhola. Da mesma forma, se a pessoa não falar e apenas estiver dentro do carro no trânsito, não perceberemos se é do Porto ou de Lagos. A língua diferencia-nos mais do que pensamos e talvez seja por isso que nos entendamos tão mal.

Já viram que as lutas entre os animais são rápidas? Não se vêm lutas que demoram anos infinitos. Em dois minutos, os cães resolvem os seus problemas. Começam e terminam de uma forma muito rápida. Em menos de 5 minutos, os leões resolvem as suas querelas. Só com os humanos, seres racionais, é que as lutas demoram anos a serem resolvidas. Anda-se com a diplomacia de trás para a frente, ameaçam-se sanções económicas, enviam-se tropas e coloca-se o dedo no botão do míssil caso as posições se continuem a extremar.

Dois leões lutam por território – que é o mesmo que lutar por comida, uma vez que o que lhes interessa em determinado território são a água e a fauna que lá existem. Lutam pelo domínio desse território. Ora os seres humanos – retirando algumas excepções que também já duram há bastantes anos – já têm as fronteiras definidas há outros tantos.

Reconheço que falar a mesma língua não seja sinónimo de entendimento. Temos exemplos disso quando dois vizinhos chegam a vias de facto porque não se entenderam sobre o lugar de estacionamento. Mas o salto entre se entenderem todos e chegarem a um acordo é bem mais pequeno que o salto de não se perceberem e quererem chegar a um entendimento. E nós é que nos intitulamos de animais racionais.

 

FONTE: Diário Digital

Subscreva as nossas informações
Scroll to Top