Nas últimas semanas, Angola fez com que se tornassem públicas as suas divergências em relação ao Acordo Ortográfico.
Primeiro, através de dois editoriais no Jornal de Angola particularmente duros em relação à nova ortografia; mais recentemente, no quadro da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), por estes dias sob presidência angolana, adiando a análise ao desenvolvimento de um Vocabulário Ortográfico de Língua Portuguesa comum a toda a lusofonia.
Não se pode dizer que esta tomada de posição seja surpreendente: Angola continua sem ratificar o Acordo Ortográfico, sendo evidente que, ao longo dos anos, se manteve publicamente alheada da discussão deste dossier, que foi, como se sabe, liderado pelo Brasil.
E o que é apontado para Angola é válido, também, para Moçambique. No entanto, estas notícias têm a particularidade de sublinhar a gritante ausência de visão estratégica de quem conduziu o processo do Acordo Ortográfico em Portugal – a reboque de uma eventual harmonização ortográfica com o Brasil, afastamo-nos da África lusófona.
Todos sabemos que a língua portuguesa é um património de valor (quase) incalculável. Infelizmente, tendemos a esquecermo-nos da sua efectiva importância económica.
(…) Hoje, as principais editoras portuguesas, com a Porto Editora à cabeça, têm nos maiores países africanos lusófonos importantes investimentos que têm contribuído, por um lado, para o desenvolvimento educacional daqueles países e, por outro, para reforçar os laços culturais e linguísticos com Portugal.
Por isso, os editores têm particular sensibilidade para esta matéria e foi com base nisso que, ao longo dos anos em que decorreu o debate em torno do Acordo Ortográfico, (…(.
Não servindo este artigo para reflectir sobre os méritos ou inconvenientes do Acordo Ortográfico, um facto tem de ser constatado: em Angola e Moçambique não se escreve português como cá, o que significa que toda a nossa produção editorial só é exportável para aqueles países se for adaptada à antiga ortografia, com tudo o que isso significa em termos de custos acrescidos.
Ou seja, falamos, efectivamente, a mesma língua, mas escrevemo-la de forma diferente.
Faz sentido?
No momento em que tanto se apela à iniciativa privada para que contribua para o crescimento económico, com particular relevância para o sector da exportação, não deixa de ser curioso que dependamos dos bons ofícios diplomáticos de Portugal e, em particular, do Brasil para convencer Angola e Moçambique a adoptar o Acordo Ortográfico e assim preservarmos um património de enorme importância económica e estratégica – a nossa língua.
Haja visão para que esta história tenha um final feliz. Ler o artigo completo (Jornal de Angola)