Lisboa, 08 mar 2023 (Lusa) – Uma exposição antológica que coloca em diálogo obras de caráter fantástico das artistas moçambicanas Reinata Sadimba e Teresa Roza d´Oliveira (1945-2019) vai ser inaugurada a 14 de março na Perve Galeria, em Lisboa.
Intitulada “Mãos de Escultura & uma visionária na ilha (de Moçambique)”, a exposição, que estará patente até 05 de maio, conta ainda com obras do artista moçambicano convidado Samuel Muankongue, segundo a galeria.
Reinata Sadimba está a realizar, desde 15 de janeiro, uma residência artística naquele espaço, preparando esculturas que serão integradas nesta mostra, com um conjunto alargado de trabalhos elaborados desde os finais da década de 1970 até ao presente, segundo a curadoria, da responsabilidade de Carlos Cabral Nunes, diretor da Perve e da Casa da Liberdade – Mário Cesariny, em Alfama.
Nascida em 1945, na pequena aldeia de Nemo, no planalto de Mueda, na província de Cabo Delgado, Reinata Sadimba assumiu muito cedo a defesa do seu povo, os Maconde, tendo-se dedicado à escultura figurativa em terracota após a independência de Moçambique, em 1975.
Na época, esta atividade estava vedada às mulheres maconde, já que aquele grupo étnico apenas lhes permitia a realização de objetos utilitários em cerâmica.
Teresa Roza d’Oliveira, artista luso-descendente que viria a morrer em Portugal em 2019, nasceu na ilha de Moçambique em 1945, e foi também ativista pela independência do seu país, integrando uma geração de artistas moçambicanos como Alberto Chissano, Malangatana Ngwenya, e Ernesto Shikhani.
O seu espólio foi integrado na Perve Galeria em janeiro de 2022, e em novembro desse ano a obra da artista esteve em destaque no leilão dedicado à arte moderna e contemporânea africana, promovido pela leiloeira francesa Piasa, ilustrando a capa do catálogo na secção dedicada aos artistas de língua portuguesa.
Na exposição “Mãos de Escultura & uma visionária na ilha (de Moçambique)”, as obras das duas artistas vão entrar num diálogo que revela uma “linguagem de assumido caráter fantástico e surrealizante, reconfigurado por uma experiência pessoal e uma imaginação fértil”, segundo a curadoria.
Muitas das obras das duas artistas abordam os temas da identidade social e individual, particularmente das mulheres, e daquelas “que se emanciparam dos constrangimentos sociais para viverem em liberdade, uma liberdade nascida da luta e da resistência, no ser e no fazer”, acrescenta.
A exposição contará ainda com a presença do escultor Samuel Muankongue, único filho sobrevivente de Reinata Sadimba, que, tendo desde cedo acompanhado o percurso artístico da mãe, aprendeu com ela as técnicas de manipulação do barro, e desenvolveu uma linguagem artística própria.
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