Lisboa, 04 abr (Lusa) – Uma exposição com 40 desenhos do artista moçambicano Malangatana (1936-2011), criados durante os anos em que esteve preso pela polícia política do Estado Novo, em Moçambique, é inaugurada na quarta-feira, dia 6 de abril de 2016, em Lisboa.
Intitulada “Malangatana – Os anos da prisão”, a exposição vai ficar patente até 06 de maio, nas instalações da galeria Sala Branca, em Campo de Ourique, com um conjunto de desenhos criados na prisão, entre 1965 e 1967, e mais três óleos do artista, datados dos anos 1990.
Contactado pela agência Lusa, Pedro Mesquita da Cunha, organizador da mostra, indicou que os desenhos “foram criados numa situação de reclusão, com recursos parcos, feitos em tinta-da-china, essencialmente todos ao primeiro traço, revelando que Malangatana era um grande desenhador”.
“Foi preso pela PIDE [polícia política do Estado Novo] por atividades ligadas ao movimento de resistência da Frelimo [Frente de Libertação de Moçambique], mas mesmo em reclusão conseguia, com ajuda de fora, continuar a fazer os seus trabalhos, sobretudo desenhos a caneta, lápis e tinta-da-china, chegando a pintar algumas têmperas em tábuas que escondia debaixo do colchão”, recordou o galerista.
Este conjunto de desenhos fazia parte de uma coleção maior de obras criadas na prisão, com cerca de uma centena de desenhos e têmperas, que chegou a ser mostrada na Fundação Mário Soares, e foi mais tarde comprada por um privado.
“Embora ele estivesse preso, os desenhos não transportam esse peso. Alguns deles são líricos, um pouco surrealistas, e transparecem uma grande liberdade criativa”, comentou Pedro Mesquita da Cunha.
Malangatana Valente Ngwenya, falecido em Matosinhos, em 2011, aos 74 anos, foi um dos artistas moçambicanos mais conhecidos no mundo e tinha uma forte relação com Portugal, o segundo país a deter o maior número de obras da sua autoria, depois de Moçambique, onde nasceu.
Do artista Augusto Cabral e do arquiteto Pancho Guedes, Malangatana recebeu em Moçambique os primeiros apoios para entrar no mundo da arte, mas o artista – que tinha sido pastor, empregado de mesa, entre outros ofícios – não se ficou pela pintura, criando cerâmica, gravura, escultura e tapeçaria.