Mais um amigo que se vai, o Eugénio Lisboa. A 29 do próximo mês faria 94 anos. Viveu uma vida cheia e saudável. Se pudesse, teria vivido sempre no lugar onde nasceu, a sua adorada Lourenço Marques, que no coração dele manteve esse nome pois foi o seu lugar de berço e onde se formou como homem.
Veja aqui uns dados biográficos para quem quiser avivar a memória.
Quando eu passava por Lisboa com um mínimo de tempo, esticava a agenda para ir almoçar com ele a S. Pedro do Estoril. Recebia as “notas bárbaras” e trocávamos emails sobre muitos assuntos que não são para aqui chamados. Parecia vender saúde. Entretanto, a 23 de março chegou-me um email dele para a sua amiga indefetível Otília Martins pedindo-lhe que o partilhasse comigo. Reproduzo dele apenas umas linhas, pois as outras não são para se publicitar (a Ísis referida na mensagem é a sua amada gatinha, a sua grande companhia na solidão da sua casa depois da morte da Antonieta):
Querida Otília, vou agora para o hospital, de onde provavelmente só sairei para o nada definitivo. Tenho algo muito grave e não operável, que me causa um terrível mal estar. Custa-me muito deixar a Ísis, a quem tinha prometido nunca abandonar. Gostava muito que ficasse consigo, mas não me atrevo a pedir.
[…]
Como estou debilitado e não posso demorar a ida para o hospital, peço-lhe que transmita ao Onésimo as minhas despedidas, […]
Um longo abraço de despedida.
E
Ainda lhe escrevi um último email que sei que leu. Vai aqui:
Caríssimo Eugénio,
Acabo de receber o seu email para a Otília que ela, a seu pedido, partilhou comigo. Fui completamente apanhado de surpresa porque a sua escrita dava-me sinais de o Eugénio estar capaz de vender saúde. Fico atónito, mas com esperança porque este seu email é tão sereno e lúcido que não posso acreditar que o Eugénio não vai aguentar mais este embate.
Não sei se conseguirá ler este email, pois não sei se no hospital terá acesso a ele. Oxalá.
Quem aprendeu muito consigo fui eu. Admirei sempre o brilho da sua inteligência, a força luminosa da sua escrita, bem como esse seu espírito aberto e franco. E a sua amizade.
Prefiro esperar confiando em que mais dia menos dia voltarei a receber emails seus.
Um IMENSO ABRAÇO do
Onésimo
Fui acompanhando o seu definhar através da boa amiga Otília que ainda conversou com ele ao telefone pelo menos duas vezes. Contudo, há dias que ambos esperávamos o desenlace fatal. Aconteceu hoje.
Na forja, tinha um livro de sonetos a sair pela Guerra e Paz. Chegou não enviada por ele, mas pelo Luís Caetano, de “A Ronda da Noite” na Antena-2, que acabara de receber do editor. Vai foto da capa.
R.I. P.
Abraços.
Onésimo
Foto de destaque: EXPRESSO: JOSÉ FERNANDES (26/02/21)
Onésimo Teotónio Almeida
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