Especialistas contra diploma que reduz ensino português em Timor-Leste

Em causa estão dois diplomas já aprovados que colocam o português apenas no terceiro ciclo, privilegiando, no início do percurso escolas, as línguas maternas, transmitidas pela família, diferem de região para região de Timor-Leste, e não coincidem com as duas línguas nacionais do país: o português e o tétum.

Os comentários foram feitos num debate, no parlamento nacional, antes da votação, terça-feira, de uma Apreciação Parlamentar para cessar a vigência de dois polémicos diplomas que colocam o português como língua principal apenas no 3.º ciclo e introduzem o ensino noutras línguas maternas timorenses, não oficiais.

Timor-Leste tem duas línguas oficiais – português e tétum – e várias línguas maternas, locais ou regionais, usadas por uma fatia minoritária da população.

Benjamim de Araújo e Corte-Real, diretor geral do Instituto Nacional de Linguística de Timor-Leste, que aludiu à capacidade dos cérebros mais jovens, até 12 anos, para adquirir línguas, referiu ainda as assimetrias que se criariam com o ensino das línguas maternas.

Segundo Corte-Real “atrasar sistematicamente” o ensino do português, como preveem os decretos “coloca em desvantagem quem vive no campo, face a quem vive na cidade” – é nas zonas rurais que mais se utilizam as línguas maternas – e “cria uma assimetria que condiciona em vez de promover igualdade de oportunidade e de acesso”.

Para Corte-Real, o Estado deve procurar a emancipação dos seus cidadãos e não pode deixar que fatores externos “condicionem diferenças entre cidadãos” ou “criem situações que constantemente estrangulem as línguas”.

Mesmo que investir nas línguas maternas – “com um gasto gigantesco” – seja “matematicamente possível” essa decisão, disse, pode “prejudicar o futuro dos cidadãos” porque com as línguas maternas não é possível progredir no processo educativo.

“Temos que promover e proteger a cultura local mas temos que aprender as línguas oficiais cedo para ajudar todo o processo de aprendizagem. Se não, chegam com as línguas oficiais fracas à universidade e não conseguem progredir”, afirmou.

Fernanda Sarmento Ximenes, professora do Departamento de Língua Portuguesa da UNTL (Universidade Nacional de Timor-Leste) considerou que, mais do que “política ou teorias de ensino”, o mais importante é perceber a “experiência do ensino em Timor-Leste”.

“Os professores de língua enfrentam muitas dificuldades devido a uma aquisição tardia da língua portuguesa. E isso cria dificuldades para os estudantes”, afirmou.

“E depois temos que considerar os recursos materiais e humanos para as línguas maternas. Há prioridades mais importantes, como o analfabetismo ou a pobreza, do que as línguas maternas”, afirmou.

Para esta especialista Timor-Leste deve “aproveitar todas as ínfimas oportunidades para promover a língua portuguesa” já que há estudos que demonstram que “uma criança que comece a aprendizagem de uma língua estrangeira mais cedo tem mais facilidades em aprender outras línguas”.

“Temos que aproveitar a idade mais jovem, com a capacidade mais elevada, para aprender as línguas. Quando não há bases de língua desde muito pequeno é mais difícil”, afirmou.

ASP // PJA – Lusa/Fim

Foto: Alunos da Escola do Farol Dili, Timor Leste, 21 de maio de 2012. PAULO CARRICO  LUSA

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