Escritor Ernesto Dabó quer mostrar “face bonita” da Guiné-Bissau

Macau, China, 16 mar (Lusa) – O escritor Ernesto Dabó, que se autodefine como um “ativista cultural”, retomou o “combate” de encontrar apoios para cumprir um ideal antigo de ver editada uma revista cultural que mostre a “face bonita” da sua Guiné-Bissau.

O escritor vê na imprensa guineense “um espaço a preencher”: “Lamentavelmente quase tudo é política, para não dizer politiquice”, e não existe uma publicação que “se ocupe da arte e cultura de uma forma regular”, afirmou Ernesto Dabó à agência Lusa, em Macau, onde participa no Festival Literário Rota das Letras.

A ideia passa por “divulgar uma outra face” da Guiné-Bissau que, “infelizmente, não tem tido a sorte de ser vista como um país de boa gente, com uma cultura riquíssima e com gente com talento e uma capacidade criativa enorme”, explicou.

“Normalmente, a imagem mais bonita de qualquer país é a cultura”, acrescentou.

Em contactos em Lisboa, em busca de apoios, Ernesto Dabó não circunscreve o projeto à terra natal.

“É uma revista essencialmente lusófona: não só o parâmetro linguístico, como o geográfico também. (…) Não faz sentido fazer uma revista e fechá-la na Guiné-Bissau”, afirmou, observando que seria direcionada, igualmente, às comunidades na diáspora.

“Vou bater-me até que consiga tirar a revista. Nem que seja com quatro folhas, mas há de sair um dia”, frisou Ernesto Dabó.

“Se não há espaço para publicar, as pessoas começam a desanimar”, realçou o autor de “Mar Misto”, livro de poesia que reúne poemas em português e em crioulo, editado em Portugal em 2011, esperançado de que um dia seja possível proporcionar “a todos os guineenses que tenham ideias na área da cultura” um “espaço para divulgarem os seus trabalhos”.

A ideia acompanha-o desde 2000 e o escritor acredita que “seguramente a revista já teria saído se o país estivesse estável”, porque as cíclicas convulsões políticas desde finais de 1990 “prejudicam quase todos os projetos”.

Ernesto Dabó tem, contudo, “outras coisas mais antigas” em que continua a pensar, como um projeto que apresentou em 1996 para fazer um inventário da música popular guineense, considerando que “cada grupo étnico é um bloco cultural” e que “o fenómeno da perda é evidente”.

“Ainda hoje ando com isso. Sou um bocado chato. Não largo assim facilmente”, brincou.

Já “quase pronta” está uma coletânea de artigos que o autor, que escreve há mais de 20 anos em jornais e em blogues, pretende publicar, após a sugestão deixada por amigos.

“Só me falta conseguir um editor”, salientou, lamentando a ausência de “uma política de suporte à edição, de promoção da literatura e do livro”, um “lamentável empecilho ao desenvolvimento” da literatura e que faz com muitos escritores na Guiné-Bissau tenham “as gavetas a abarrotar”.

Embora de forma muito irregular, Ernesto Dabó está também a escrever um romance, em que tenta ficcionar uma situação que é consequência da guerra civil guineense de 1998.

“Não vou tratar a guerra, vou ver o que a guerra provoca, inclusive no caso de dois namorados. O que a guerra faz de mal às coisas boas que as pessoas têm”, afirmou.

DM // VM – Lusa/Fim
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