No último episódio prometemos explicar o significado de não se pode ter sol na eira e chuva no nabal. Este provérbio demonstra mais uma vez a importância da economia rural na sociedade portuguesa. De acordo com o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa (edição online) uma “eira” é um “terreno liso ou empedrado onde se põem a secar legumes ou cereais” e “nabal” é um terreno semeado de nabos. É do interesse do agricultor dono destes dois terrenos que a eira esteja exposta ao sol e sempre seca e o nabal exposto à chuva e molhado pois para que os nabos cresçam saudáveis precisam de regas abundantes.
No entanto, todos sabemos que o sol quando nasce é para todos ou melhor dizendo todos os seres humanos beneficiam ou usufruem de igual modo do que a natureza nos dá como o sol ou a chuva. Assim, nem sempre é possível desejar ou querer ter duas coisas ao mesmo tempo, sejam elas opostas ou não e daí os portugueses dizerem não se pode ter sol na eira e chuva no nabal.
Este provérbio tem um correspondente direto em várias línguas ainda que as referências usadas sejam completamente diferentes: os ingleses reclamam que não podem ter um bolo e comê-lo (You can’t have your cake and eat it); os franceses querem comprar manteiga e guardar o dinheiro que custa (Vouloir le beurre et l’argent du beurre), os espanhóis gostavam de ir à missa e à procissão ou tocar o sino ao mesmo tempo (querer estar en misa y en procesión / tocar la campana) e os chineses consideram impossível ter um peixe e a pata do urso que — presumo — o apanha (鱼与熊掌,不可兼得).
Outra frase portuguesa que faz referência a “eira” é sem eira, nem beira que quer dizer não ter dinheiro ou estar na mais completa penúria ou como se costuma dizer coloquialmente não ter onde cair morto. Se a eira de um agricultor estiver cheia de produtos agrícolas a secar este pode dar-se por satisfeito pois terá o suficiente para alimentar a sua família e, possivelmente, até fazer algum lucro com a venda dos excedentes. A falta de uma eira ou uma eira vazia é assim associada à pobreza e à mais completa indigência ou destituição.
Considerando que morrer custa bastante dinheiro pois para além de pagar o funeral ainda é necessário alugar um espaço num cemitério para colocar as cinzas ou enterrar o caixão, quando dizemos que alguém não tem onde cair morto — isto é: não tem dinheiro para pagar as últimas despesas que fará na sua vida o que verdadeiramente pretendemos comentar é a situação de total precariedade e extrema pobreza em que aquela pessoa se encontra.
Esta semana, em vez de darmos nós os exemplos de uso destas três expressões populares portuguesas vamos pedir aos nossos ouvintes que o façam através do nosso site sayitinportuguese.pt
OUTRAS EXPRESSÕES MENCIONADAS o sol quando nasce é para todos sem eira, nem beira não ter onde cair morto