Ontem ouvi uma publicidade na rádio que dizia: “não largas tudo para viajar pelo mundo, mas vais de malas e bagagens para o livro que estás a ler”. O que significa ir de malas e bagagens? As duas palavras não são sinónimas uma da outra?
Bom, a palavra “mala” tem vários significados: pode ser uma bolsa ou carteira de senhora de pequenas dimensões e usada para transportar documentos e pequenos objetos de uso corrente como o telemóvel ou o porta-moedas, mas também uma caixa de maiores dimensões, e com uma ou mais alças ou pegas, usada sobretudo para o transporte de roupa ou outros artigos necessários quando fazemos uma viagem. A palavra “bagagem” é uma espécie de nome coletivo pois de acordo com o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa é “tudo o que um passageiro ou um exército em marcha leva para seu uso.” Assim, as duas palavras não são exatamente sinónimas.
Usado no plural, o termo “mala” pode ter exatamente o mesmo significado que “bagagem” e portanto é absolutamente redundante, ou melhor dizendo, palavroso ou supérfluo. Na verdade, creio que essa publicidade deturpou uma expressão portuguesa que é mudar-se de armas e bagagens que literalmente pode significar partir ou mudar-se de um local para outro com tudo o que temos ou todos os nossos pertences ou bens.
Então a expressão é de armas e bagagens e não malas e bagagens como eu ouvi na publicidade que passou na rádio. De qualquer forma, o que ambas as frases sugerem é que carregamos coisas em excesso — como quando uma pessoa viaja com imensas malas, malinhas e maletas e precisa de um carrinho para levar toda a sua bagagem?
Acho que sim. A expressão significa empenhamento excessivo, total exclusividade e dedicação para realizar uma tarefa ou completar uma atividade como quando um indivíduo leva coisas a mais ou de que não precisa numa viagem. Do tipo de pessoa que gosta de viajar preparada para todas as eventualidades ou para o que quer que seja que possa acontecer…
Ah já sei! Pessoas do tipo mais vale prevenir que remediar…
C. Esse é outro provérbio português que descreve não exatamente pessoas excessivamente cautelosas ou precavidas, como estás a sugerir, mas antes aconselha a que pensar antecipadamente ou a planear cuidadosamente antes de agir pois, é sempre mais fácil fazer as coisas bem desde o início do que corrigir os erros cometidos por falta de planeamento.
Os exemplos de uso são a melhor forma de explicar estas frases idiomáticas.
— A minha tia mudou-se de armas e bagagens para o Porto. Ela gosta tanto de lá viver que nunca mais nos veio visitar a Lisboa.
— O gestor do meu banco mudou-se de armas e bagagens para a concorrência. Não apenas levou consigo a sua secretária e o seu assessor direto, como também a sua carteira de clientes. Acreditas que me enviou uma carta a me convidar a transferir a minha conta bancária para o banco onde ela agora trabalha? O argumento dele é que conhece os meus interesses e neste novo banco poderá triplicar os meus investimentos! Acho que devia era ter vergonha na cara!!!!!
— Nem sempre há tempo para fazer uma revisão ao carro antes de uma longa viagem mas se houver é bom fazê-lo pois mais vale prevenir do que remediar…
— Cortei-me com um prego…
— Tens a vacina do tétano em dia?
— Não sei… Acho que não.
— Então devias ir ao centro de saúde para levar um reforço. Mais vale prevenir que remediar.
REFERÊNCIAS
Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013 último acesso a 22-01-2017
OUTRAS EXPRESSÕES MENCIONADAS
mais vale prevenir do que remediar
ter vergonha na cara