ENSINAR / APRENDER POESIA

Segundo Eduardo Lourenço em «Esfinge ou a Poesia», «a poesia é expressão das origens.

Solicitado pela noite animal e a plenitude solar, um poeta talhou na rocha uma forma visível da sua condição.

Compreender a Esfinge, compreender a poesia é olhá-la sem a tentação de lhe perguntar nada. É aceitar o núcleo de silêncio donde todas as formas se destacam. A obra vale pela densidade de silêncio que nos impõe. Por isso os poetas que imaginam dizer tudo são tão vãos como as estátuas gesticulantes.»

Por tudo isso e do meu ponto de vista, a poesia não deve ser ensinada nem aprendida, mas partilhada; não deve ser imposta, mas sentida; não deve ser um conteúdo, mas um caminho.

Na verdade, através da poesia, é possível crescer-se no silêncio das palavras, pois é aí que o poeta procura completar-se, colocando as mesmas questões de forma diferente, rodopiando sobre o mundo que, em vão, lhe dá as respostas que procura.

E há tantos poetas contemporâneos dignos dessa partilha: Vasco Graça Moura, Ana Luísa Amaral, Adília Lopes, Manuel António Pina, Maria Teresa Horta, Manuel Gusmão, Gonçalo M. Tavares, Jorge Sousa Braga, A.M. Pires Cabral, Bénédicte Houart, Ana Paula Inácio, Diogo Vaz Pinto, Galgona Anghel, José Miguel Silva, Manuel de Freitas, Rui Lage e Daniel Faria.

Embora seja útil traçar-se o caminho da poesia ao longo do tempo, a poesia contemporânea desenha o retrato daquilo que hoje somos.

E essa «Esfinge» é intocável e a poesia, apesar da passagem do tempo, retoma os mesmos temas, como uma espécie de silêncio ou de abismo de palavras em que o vazio procura completar-se. Talvez por isso se possa dizer que a poesia nunca está pronta. Ou talvez o esteja, se aceitarmos que há perguntas para as quais não temos resposta.

Assim, cabe ao professor acordar o aluno para a poesia, fazendo nascer as palavras no tanto que têm para dizer. E o aluno deverá deixar-se conduzir nesse rodopio de sentidos até ao mundo do poeta. Cabe ao professor ajudá-lo a ver por esses olhos, encantá-lo através do desvendar dos mistérios de que se reveste a poesia.

Nessa altura, poder-se-á dizer que «tudo vale a pena, se a alma não é pequena».

Lúcia Vaz Pedro

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