Lisboa, 28 nov (Lusa) – O embaixador brasileiro junto à CPLP declarou hoje, em Lisboa, que a cooperação para o desenvolvimento é fundamental no âmbito do bloco lusófono, devendo mesmo ser aprofundada nos próximos anos.
“A cooperação veio para ficar e crescer porque, pelo menos do nosso ponto de vista do Governo brasileiro, a cooperação Sul-Sul deve ser um dos pilares do desenvolvimento sustentável no mundo”, disse à Lusa Gonçalo de Barros Carvalho e Mello Mourão, embaixador do Brasil junto à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.
“A nossa aposta é nisto: temos no Brasil uma agência de cooperação (Agência Brasileira de Cooperação/ABC), que é bastante ativa nos projetos de cooperação para o desenvolvimento, especialmente nos países lusófonos. Isto também fortalece os vínculos entre os países”, afirmou Mello Mourão, que está há quatro meses no cargo da embaixador junto à CPLP.
O Brasil também anunciou na cimeira de Brasília que pretende desenvolver mais profundamente alguns pontos da Agenda 2030 da ONU no âmbito da CPLP, nomeadamente durante a sua presidência do bloco lusófono (2016-2018).
“A nossa ideia é tentar, ao nível da CPLP, ver quais aspetos desta agenda nós podemos, com algum realismo e com muita parceria, para chegarmos, pelo menos até ao final desta presidência brasileira, com alguns resultados concretos que possamos apresentar”, afirmou Mello Mourão.
Os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e 169 metas proposto pelas Nações Unidas, a Agenda 2030 – que substitui os Objetivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM), que vigoraram até 2015 -, estimularão a ação para os próximos 15 anos nas áreas da saúde, do combate à fome, educação, igualdade de género, produção e consumo sustentável, entre outros.
“Esta Agenda pretende fazer com que os países, de alguma maneira, evoluam em certos aspetos com vista a um desenvolvimento sustentável que seja mais universal”, referiu o embaixador brasileiro.
Em relação à concertação política na CPLP, Mello Mourão referiu que há “um entendimento bastante bom”.
“A ideia é que tudo funcione e tem funcionado bastante bem a nível de posicionamento internacional, de apoios a candidaturas de órgãos internacionais, até a nível de compreensão de aspetos de desenvolvimento ou os aspetos políticos internos de cada um dos nossos países tem funcionado muito bem”, afirmou.
Sobre a Guiné Equatorial, o diplomata disse que “é um membro da CPLP e que mostrou o desejo de participar do bloco lusófono, fazendo esforços para se adaptar às regras e normas da comunidade”.
Guiné Equatorial, que é uma antiga colónia espanhola e também não tem laços culturais com os países lusófonos, aderiu formalmente ao bloco lusófono durante a Cimeira de Chefes de Estado e de Governo da CPLP em Díli, em 2014.
O Presidente da Guiné Equatorial, Teodoro Obiang, é um dos governantes mais antigos à frente de um Governo em África, desde agosto de 1979 (a par com José Eduardo dos Santos, Presidente de Angola), através de um golpe de Estado contra o próprio tio, Francisco Macías, que foi posteriormente fuzilado.
Obiang e membros da sua família (nomeadamente o seu filho ‘Teodorin’ Obiang) – que têm uma das maiores fortunas em África segundo a revista Forbes – enfrentam processos em alguns países por corrupção, fraude e branqueamento de capitais, assim como o Presidente equato-guineense enfrenta acusações de violação dos direitos humanos por várias organizações não-governamentais (ONG).
“A função da CPLP não é partir do princípio que um país-membro é um problema. Se nós partirmos desde princípio, vamos fortalecer o dado problema, mas isso não significa que estamos a fingir que não os há, pois estes existem há em toda a parte”, disse.
“Os problemas que existem não podem ser impeditivos do bom funcionamento da comunidade. A CPLP pretende, mutuamente, encontrar soluções para os problemas”, sublinhou Mello Mourão.