Lisboa, 10 dez (Lusa) – O embaixador do Brasil em Portugal, Mário Vilalva, defendeu hoje que o Português apenas se afirmará a nível mundial se for reconhecido como língua de negócios e de ciências, conferindo-lhe maior “substrato económico”.
“Atribuímos uma importância crescente ao aumento do substrato económico da língua”, afirmou hoje o embaixador brasileiro, numa intervenção no seminário sobre “O Brasil e a transição internacional”, no Instituto de Defesa Nacional, em Lisboa.
Para o Brasil, “não basta que o Português seja uma língua de cultura e de aproximação histórica entre oito países”, mas também deve ser “a língua dos engenheiros, cientistas e homens de negócios”.
Mário Vilalva expressou satisfação por ver Portugal e Brasil a “construir aviões juntos e em português”, assinalando também a cooperação nas áreas das tecnologias, biotecnologias, nanotecnologias ou exploração do petróleo.
“Isto é que é dar substrato económico à nossa língua. O resto é retórica, é discurso, é bonito”, sustentou.
A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, composta por Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste, é “uma importante expressão de poder” e “há interesse em aprofundar a ligação entre os países e garantir que tenha uma expressão à altura da dimensão que lhe queremos atribuir”, considerou.
Na sua intervenção no seminário, o embaixador referiu ainda a importância do acordo do Mercosul com a União Europeia (UE), dias depois de uma nova reunião entre as partes, e apontou benefícios para Portugal.
O acordo entre a UE e o Mercado Comum do Sul (Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai e Venezuela), que está a ser negociado desde 1999, permitirá “um salto quantitativo e qualitativo nas relações comerciais, sem falar nas relações de investimento”, destacou Vilalva.
O embaixador manifestou no entanto “surpresa e um certo grau de frustração” face à posição europeia, que considerou insuficiente a proposta do Mercosul, de uma liberalização total de 87% do comércio.
“O Mercosul tem dito que 87% é o início, estamos dispostos a ir mais longe, mas a partir da negociação. Não podemos pôr já em cima da mesa uma proposta mais ousada, sem ideia do que a outra parte tem para propor”, defendeu o diplomata brasileiro, que se mostrou confiante que os dois blocos conseguirão chegar a um acordo.
Mário Vilalva disse que o país irá atrair investimento dos países do Mercosul, “pelas suas vantagens competitivas”, como o clima e os portos de águas profundas, além de beneficiar com o fim das tarifas para fazer entrar os produtos no Brasil.
O embaixador deu o exemplo do vinho português, que paga 35% só para entrar no país, além dos outros impostos, e é o terceiro mais consumido naquele país, depois dos vinhos chilenos e argentinos, que não pagam taxas. “Imagine-se se não tivesse tarifa”, disse.
Outra das prioridades da política externa do Brasil é conquistar “uma participação mais ativa nas novas estruturas de poder mundial”, afirmou o embaixador, que apontou que as instituições criadas no pós-segunda guerra mundial – nomeadamente a Organização das Nações Unidas – “já não representam o Mundo de hoje”.
O Brasil quer “assegurar a democratização das instituições internacionais, a desconcertação do poder decisório e uma nova distribuição do poder económico e financeiro”, acrescentou.
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