Díli, 23 fev (Lusa) – A CPLP não pode ser um espaço fechado nas questões da língua e da cultura, aspetos que só se aprofundam e desenvolvem se sustentados pelas relações económicas e comerciais, disse hoje o ex-ministro português Luís Amado.
“Estas questões só se consolidam se as relações comerciais, os agentes económicos, as trocas de produtos, o comércio e o investimento se desenvolverem mais neste espaço”, disse hoje em Díli o economista e ex-ministro dos Negócios Estrangeiros.
Luís Amado falava numa conferência no âmbito da segunda reunião dos ministros do Comércio da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).
O ex-ministro saudou os esforços da presidência rotativa da CPLP por Timor-Leste para “imprimir uma mudança à CPLP e à forma como o espaço lusófono responde aos desafios mundiais” que enfrentam todas as economias.
Desafios sobre “a inserção na globalização”, num mundo em que “a interdependência se tornou global” e em que as questões da soberania e dos poderes do Estado estão condicionadas por isso.
No caso de Timor-Leste, destacou que o esforço foi pensar a CPLP em termos da sua “inserção na economia regional e ao mesmo tempo na economia global”, através de estruturas como a Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) ou outras relações regionais.
Luís Amado referiu-se à aposta “inovadora” de Timor-Leste na realização esta semana do 1.º Fórum Económico Global da CPLP que, pela primeira vez, reunirá centenas de empresários dos espaços lusófonos e da região da Ásia e Pacífico, entre outros.
“É uma ideia inovadora. E é provável que este mesmo fórum possa servir de exemplo para outras iniciativas de outras presidências noutras regiões económicas no futuro”, disse.
Amado sublinhou que não se pode analisar a integração económica regional na CPLP da mesma forma que se pensa na integração de cada Estado membro nas suas regiões respetivas.
“Mas há processos de facilitação do comércio e do investimento, de incentivo às relações económicas entre os estados membros desta comunidade que politicamente podem ser favorecidos em termos mais favoráveis”, disse.
“Mesmo sem pôr em risco os processos de integração de cada país nas suas comunidades económicas regionais, como a UE, o Mercosul, a ASEAN ou outras”, acrescentou.
Luis Amado destacou que continua a haver “alguns preconceitos”, incluindo em Portugal, sobre o papel da CPLP nesta domensão mais económica, o que considera “uma falta de perceção em relação ao papel importante que a CPLP tem a desempenhar no futuro”, que passa também pela “mudança do conceito do que é a CPLP”.
A questão do papel do Estado no incentivo ao setor privado (tema da intervenção de Luís Amado nesta conferência), incluindo o acesso ao financiamento, tem sido assunto premente nos debates sobre as dificuldades estruturais no desenvolvimento do comércio e investimento no espaço lusófono.
O assunto já foi discutido em Luanda, na primeira reunião dos ministros do Comércio lusófonos, em 2012, tendo sido identificado como um dos quatro eixos de cooperação económica.
A troca de experiencias em relação à “partilha de riscos”, a “criação de instrumentos nacionais para dar resposta a dificuldades de acesso a capitais” pelas pequenas e médias empresas e o “papel do setor empresarial na dinamização de iniciativas ligadas ao financiamento” foram identificadas como medidas a tomar.
Foi ainda estudada a “possibilidade de criação de um Fundo de Investimento, aproveitando sinergias de instituições existentes”.