Nos dias 7, 8 e 9 do passado mês de Julho, a Universidade de Aveiro abriu as portas ao Encontro “Música & Lusofonia em acervos de 78 rpm”. A organização deste encontro que contou com experiências distintas de investigadores nacionais e internacionais esteve a cargo do pólo de Aveiro do Instituto de Etnomusicologia – Centro de Estudos em Música e Dança e da Universidade de Aveiro, com o patrocínio da Fundação Calouste Gulbenkian e da Fundação para a Ciência e Tecnologia e com o apoio institucional da CPLP, através da Comissão Temática de Promoção e Difusão da Língua Portuguesa e do Observatório da Língua Portuguesa.
Num encontro organizado em sessão única, o que permitiu que os participantes pudessem assistir a todas as apresentaçõesproporcionando uma profícua troca de conhecimentos, os trabalhos apresentados por cerca de trinta participantes debruçaram-se sobre aspectos históricos, técnicos e etnográficos relacionados com Portugal, Brasil, São Tomé e Príncipe, Angola, Cabo Verde e Moçambique. No primeiro dia, aconferência inaugural esteve a cargo do Sr. Embaixador Eugénio Anacoreta Correia, Presidente do Observatório da Língua Portuguesa e da Comissão Temática de Promoção e Difusão da Língua Portuguesa.
A organização do encontro vem no seguimento do trabalho de pesquisa realizado pelo Professor Dr. Pedro Aragão, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, professor visitante na UA no ano lectivo passado e investigador colaborador no INET-md. Durante a sua estadia em Aveiro, este investigador dedicou o seu trabalho ao acervode 6500 de fonogramas de 78 rpm doados à UA em 2013 pelo coleccionador José Moças. Esta colecção que inclui música executada em português e gravada em Portugal e no Brasil, tanto por músicos portugueses como brasileiros, está a ser digitalizada desde 2014 num laboratório especialmente equipado para o efeito pela Universidade de Aveiro com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian e com o suporte técnico do Arquivo Fonográfico de Viena, o mais antigo arquivo sonoro da Europa. Foi após a descoberta de registos sonoros de músicos brasileiros que circularam entre Portugal e o Brasil, músicos estes desconhecidos nos arquivos brasileiros, que surgiu a ideia de organizar um encontro que pudesse contribuir para a criação de um grupo de trabalho com o objectivo de criar um portal comum aos países lusófonos para construção de um arquivo em rede de música em português. O portal Memórias de África e do Oriente (http://memoria-africa.ua.pt), mantido pela UA desde 1997 destinado a fontes escritas impressas, e o projecto Telemeta (http://telemeta.org) criado pelo CNRS para desenvolvimento de um portal colaborativo para fontes sonoras e audiovisuais, ambos com representação neste encontro, são os modelos para a construção deste portal de arquivo em rede. Pretende-se assim pôr em diálogo diferentes acervos com registos em português de modo a centralizar a informação e a facilitar não só futuros trabalhos de investigação como o acesso do público em geral.
Esta preocupação surge no seguimento dos diversos esforços desenvolvidos pelo INET-md no sentido da criação de um arquivo nacional de som, estrutura pela qual se tem debatido desde a sua fundação em 1995. A criação deste arquivo, essencial à preservação de colecções que testemunham a história da música gravada em Portugal, tem sido negligenciada pelos sucessivos governos o que faz com que, apesar dos esforços ao nível académico, Portugal seja o único país da Europa sem esta infra-estrutura. Esta também foi uma das razões para que neste encontro se reunissem investigadores do INET-md que se têm ocupado com trabalho nos arquivos de som. Para além de investigadores especialistas em arquivos de som, este primeiro encontro contou com responsáveis por arquivos locais como o Instituto Moreira Salles (Rio de Janeiro, Brasil), a Rádio Nacional de Moçambique (Maputo, Moçambique), a Rádio Nacional de Angola (Luanda, Angola), os Arquivos de S. Tomé e Príncipe, os Arquivos da Rádio de Cabo Verde, os Arquivos da RTP/RDP, o Arquivo do Museu Nacional de Etnologia e o Arquivo do Museu do Fado. O debate aqui proporcionado foi ainda enriquecido pela experiência de técnicos especializados no tratamento de fonogramas de 78 rpm e pelo depoimento de coleccionadores.
O encontro encerrou com uma visita ao arquivo de som da UA e com a decisão de organizar um novo encontro, em 2018, no Rio de Janeiro, Brasil, com o apoio da Fundação Roberto Marinho, associada institucional deste primeiro encontro. Outras iniciativas conjuntas com o apoio da CPLP estão agora em preparação e serão divulgadas oportunamente.
A revista Glosas faz aqui um agradecimento especial à Professora Susana Sardo (INET-md, UA) pelo depoimento que possibilitou a elaboração desta nota.