Praia, 11 jul (Lusa) – A diretora do Instituto Internacional de Língua Portuguesa (IILP), manifestou-se, em entrevista à agência Lusa, preocupada com o futuro desta instituição da comunidade lusófona devido à indefinição sobre a liderança e aos recorrentes problemas financeiros.
Marisa Mendonça, que deixa a presidência do IILP em dezembro, mostrou-se apreensiva por não existir, até ao momento, decisão sobre quem assumirá a direção do instituto a partir dessa altura ou manifestações de interesse no cargo.
Cabo Verde assume a presidência da comunidade lusófona na XII Conferência de Chefes de Estado e de Governo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), agendada para 17 e 18 de julho, na ilha do Sal.
As propostas sobre os países que irão assumir a liderança dos órgãos da comunidade são aprovadas durante as cimeiras, mas até ao momento não é conhecida a vontade de qualquer país em apresentar uma candidatura.
“Ainda não há uma decisão neste sentido e isto está a deixar-me, de certa forma, muito apreensiva. Estranhamente, até este momento, estamos a menos de 15 dias da cimeira da CPLP, e não há nomes”, disse.
Marisa Mendonça considerou que “seria bom perceber quais são os países ou as pessoas que se estão a perfilar” para a direção deste organismo, lembrando que, aquando da sua nomeação, Moçambique propôs “muito cedo” o seu nome.
A diretora executiva do IILP, que cumpre o seu segundo mandato à frente da instituição, manifestou-se também preocupada com os atrasos recorrentes no pagamento das quotas por parte dos países-membros, adiantando que o instituto tem estado a funcionar com 8% do seu orçamento.
“A nível financeiro estamos numa situação complicada. Quando entrei fizemos um grande esforço de contacto com os Estados-membros, que estavam com uma dívida global acima de um milhão de euros, quatro orçamentos anuais do IILP. Não preciso de entrar em grandes pormenores para se perceber a dificuldades de gerir o instituto nessa situação”, disse.
Adiantou que a dívida chegou a reduzir para 300 mil euros, mas que atualmente ascende a mais de 800 mil euros.
“É uma dificuldade imensa, temos compromissos assumidos diante de outras instituições que dão cobertura técnica às nossas plataformas, aos nossos projetos e andamos muitas vezes com o coração nas mãos, porque não sabemos como honrar os nossos compromissos”, reforçou.
Marisa Mendonça assinalou que se trata de “uma situação recorrente e que vem do passado”.
“Temos vivido sempre com este problema a nível financeiro. Isto não nos permite dar outros passos, temos obrigações, orientações plasmadas nos planos de ação de Brasília, de Lisboa e de Díli, mas temos de ser muito cautelosos quando pensamos abrir mais uma frente de trabalho e trazer outras dimensões àquilo que é a atividade do IILP”, disse.
Ainda assim, a diretora executiva do instituto faz um “balanço positivo” do seu mandato, manifestando a expetativa de que os projetos em curso não sejam postos em causa.
“Fez-me muito trabalho, temos projetos em bom nível de desenvolvimento, seria realmente uma pena que estes projetos não pudessem ser continuados. É muito importante pensarmos como é que essas atividades vão continuar, mas antes de pensarmos nisto temos de pensar na consolidação da instituição, temos de pensar noutras formas de manter a instituição viva e com as condições que obrigatoriamente tem de ter”, considerou.
Marisa Mendonça sublinhou a importância de ter dado continuidade aos projetos que estavam em curso na organização – Vocabulário Ortográfico Comum (VOC), Portal de Português Língua Estrangeira e a Revista Plateau, bem como de ter conseguido iniciar novos projetos.
“Iniciámos e estamos a desenvolver três projetos: CPLP – Comunidade Mais Leitora, que visa o desenvolvimento e promoção da leitura e da escrita, como uma estratégia comum a todos os países da CPLP, o dicionário de autores de literaturas africanas de língua portuguesa, que é a transformação de um dicionário em formato físico num dicionário virtual, e as terminologias científicas e técnicas comuns da língua portuguesa”, enumerou.
Para Marisa Mendonça, este último projeto será “bastante importante” porque “vai trazer uma plataforma consensualizada de terminologias que poderão ser um apoio fundamental para as atividades tanto de tradução como de interpretação de conferências”.
Marisa Mendonça apelou às autoridades cabo-verdianas, que vão presidir à CPLP e país onde está a sede do instituto, que olhem para o IILP “com outra atenção”.
Sediado na cidade da Praia, o IILP é um instrumento para a gestão comum da língua portuguesa, envolvendo todos os Estados-membros da CPLP.