Boa alimentação e sono de qualidade são segredos para as acrobacias do Dino em Cabo Verde
Praia, 04 set 2021 (Lusa) – Aos 14 anos, Dino começou a treinar e hoje com quase 42 ainda continua em Cabo Verde, como autodidata nas acrobacias, orgulhando-se do “domínio próprio” que tem como segredos uma boa noite de sono e uma boa alimentação.
Osvaldino Lopes da Silva, mais conhecido por Dino, é natural do bairro de Achada Santo António, Kelém, na cidade da Praia, e durante o dia trabalha como pintor para ganhar a vida.
Mas à tarde, sobretudo às sextas-feiras e sábados, é frequente encontrá-lo a descer as escadarias na praia da Prainha com os pés para cima e as mãos no chão e a fazer outras manobras nos muros e paredes.
São acrobacias, enquadradas na modalidade de parkour, desenvolvida inicialmente em França na década de 1980, mas que aprendeu sozinho, tendo começado a treinar com os seus 14/15 anos.
Dino define o que faz como “domínio próprio”, já que o treino físico livre lhe permite ultrapassar vários obstáculos somente com a sua capacidade de usar o seu corpo.
“Gosto de me dominar a mim próprio, e faço isso desde criança”, recorda o atleta, em entrevista à agência Lusa, sentado num dos 55 degraus das escadarias da Prainha, no intervalo dos treinos, que chamam a atenção dos presentes no local, que não param de tirar fotos das habilidades.
E quais os segredos para tanta forma física e capacidade para manobras tão arriscadas, sobretudo para alguém que aprendeu sozinho? A resposta sai pronta: “O segredo é dormir cedo, não perder sono, não comer, mas sim alimentar-me bem”, responde Dino Lopes, que treina entre uma a duas horas por dia, às vezes de manhã e outras à tarde, e às vezes também na praia de Quebra Canela.
Quanto aos alimentos, diz que prefere tudo o que é produzido no país, mais concretamente frutas, iogurte, mandioca, batata-doce com leite, ovo, mancarra, mel de abelha, feijão e camoca, uma farinha do milho torrado e depois moído.
“Tudo isso que é importante para este exercício físico”, salienta o acrobata, que tem mais dificuldade em encontrar mel de abelha natural para completar a dieta, que exclui o cigarro ou bebidas alcoólicas.
“Treino é a coisa mais importante da vida, dá-te saúde, mais anos de vida, não só os jovens, mas os mais velhos também podem fazer exercícios físicos”, incentiva.
Até agora, Dino não foi a mais nenhum sítio para levar as suas habilidades, tendo apenas recebido um convite de um responsável nas Forças Armadas para falar da sua experiência na instituição castrense, mas que não chegou a concretizar.
O grande objetivo deste autodidata é ensinar às crianças o que faz e incutir nelas o gosto pelos exercícios físicos.
“Para serem melhores do que eu, irem apresentar o nosso país lá fora”, traça, lamentando sobretudo a falta de um espaço adequado para treinos, que combinam destreza, equilíbrio e força de braços e pernas.
Mas sempre que vai às duas principais praias balneares da cidade da Praia vê a curiosidade estampada no rosto de algumas crianças, que até o acompanham nos treinos.
“Se eu tiver apoios, posso arranjar um espaço para treinar as crianças”, pede o atleta. “É o melhor treino que há, gosto mesmo”, garante Dino, que nunca usou a sua habilidade e físico para ganhar algum dinheiro.
“É só treinar, para motivar outras pessoas para treinarem como eu”, salienta, sentado nas escadarias da praia da Prainha, uma das zonas mais nobres da cidade da Praia e frequentada por muita gente para apenas um banho de mar ou passear.
Desde que se exercita, Dino disse que nunca caiu e nem se lesionou, atestando que para ele não há riscos, voltando a ressaltar a questão do “domínio próprio”, e que os perigos são para quem está a começar.
Mesmo treinando ao ar livre e quase sempre sozinho, o atleta diz que também foi afetado pela pandemia da covid-19, tendo optado por treinar em casa, apesar de não ser a mesma coisa.
“A pandemia afetou-me muito, perdi muito equilíbrio, e para não perder totalmente, fiquei a treinar um pouco em casa e agora que as coisas estão mais aliviadas, voltei ao ar livre”, diz, com um sorriso no rosto e vontade de fazer o que mais gosta que é treinar.
A motivação é tanta que Dino não se vê a fazer outra coisa e não quer mais parar. “Pode ser com 70, 80, 90 anos, as pessoas podem ficar admiradas, mas quero ir até onde Deus quiser. Não vou desistir nunca”, assegura.
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