“Foi aqui que nasceu Timor-Leste”, diz um cidadão de Oecússi, no monumento de Lifau, que assinala a chegada dos primeiros colonizadores portugueses à ilha, em 18 de agosto de 1515.
O monumento foi construído durante o tempo da ocupação indonésia, que em Oecússi ocorreu a 29 de novembro de 1975, e é um “símbolo da resistência à ocupação”, explicou.
“Aqui também é Portugal”, é uma das frases inscritas no monumento de Lifau, que no próximo ano voltará a ser o centro de Timor-Leste, quando se assinalarem os 500 anos da chegada dos portugueses, antiga potência colonizadora.
Quase 500 anos depois, um outro monumento, mais pequeno, foi construído em Pante Macassar, a capital de Oecússi, a cerca de seis quilómetros de Lifau.
Uma lápide, iluminada, assinala o desenvolvimento prometido para o berço do país com o lançamento da primeira pedra para o início da implementação do projeto-piloto para a criação da Zona Especial de Economia Social de Mercado, liderado pelo antigo primeiro-ministro timorense Mari Alkatiri.
“A escolha de Oecússi é um pouco como voltar à história”, afirmou à agência Lusa Mari Alkatiri.
“Assim como Timor-Leste começou em Oecússi, o desenvolvimento de Timor-Leste vai começar em Oecússi para se estender ao resto do país”, sublinhou o também secretário-geral da Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin).
Mas, para que o desenvolvimento seja uma realidade, não há milagres, avisou Mari Alkatiri, salientando que ou há trabalho, participação e compreensão, ou dificilmente as coisas poderão ser feitas.
Em Pante Macassar, a capital de Oecússi, já se sente que alguma coisa vai acontecer.
Há obras. Os pequenos e poucos restaurantes existentes na cidade estão a melhorar as infraestruturas com a construção de quartos para receber os forasteiros e em agosto foi lançada a primeira pedra para a construção de um hotel e assinado um memorando de entendimento para o estabelecimento do Instituto Superior de Oecússi.
O novo porto para receber as duas viagens semanais do Nakroma, barco que faz a ligação com Díli, já foi inaugurado e a construção de novas estradas, mais largas, e do aeroporto vão começar entre este mês e outubro, bem como a reabilitação da marginal da cidade.
Com cerca de 60 mil habitantes, a população de Oecússi pratica essencialmente uma agricultura de subsistência, cria gado e produz tais, os típicos panos timorenses.
A pesca é quase inexistente e a maior parte dos produtos consumidos são provenientes da vizinha indonésia, outros chegam no Nakroma.
Em Oecússi, a vida é barata (uma refeição num restaurante local custa cerca de três dólares) e já há quem tema que a chegada esperada de mais gente à cidade vá inflacionar os preços.
Há também quem duvide se o desenvolvimento falado vai chegar aos habitantes de Oecússi, mas para já ninguém quer dar a cara a contestar o projeto-piloto das autoridades timorenses.
É esperar para ver, dizem os mais céticos, enquanto outros não duvidam que o projeto vai criar postos de trabalho.
“O projeto vai aumentar o trabalho”, afirmou Ricardo Sufa, 47 anos, um antigo veterano, pai de sete filhos, que vive essencialmente do que cultiva na horta, dos animais que cria e da produção de tais, bem como da pensão que recebe do Estado timorense.
“É muito bom para a comunidade da região de Oecússi”, acrescentou Marcelino Babo, de 50 anos e com oito filhos, apesar de lamentar a falta de luz no local onde vive, mais para as montanhas.
Enquanto se espera pelo futuro, em Oecússi os dias mais agitados continuam a ser os da chegada do Nakroma ou os das festas organizadas pelas autoridades nos feriados nacionais, quando as pessoas se reúnem a ouvir as bandas e ver, no final da noite, o fogo-de-artifício.
MSE // VM – Lusa/Fim
Fotos:
– Duas mulheres passeiam pela marginal de Oecússi, Timor-Leste, 13 de setembro de 2014. ANTÓNIO AMARAL/LUSA
– O pelourinho de Lifau, com o escudo português, marca o local onde os portugueses desembarcaram pela primeira vez em Timor-Leste, em Oecússi, 13 de setembro de 2014. Os habitantes de Oecússi gostam de lembrar que Timor-Leste nasceu no enclave, situado na metade ocidental da ilha de Timor, e 12 anos depois da independência é naquele local que será iniciado o desenvolvimento do país. ANTÓNIO AMARAL/LUSA