O professor Adelino Oliveira de Sousa, autor de um estudo sobre o ensino do português na rede associativa em França, considera que a introdução de uma propina nos cursos organizados pelo Estado português pode provocar a diminuição do número de alunos.
“Os dois principais desafios da língua portuguesa em França no próximo ano letivo vão ser, por um lado, a entrada em vigor da propina decidida pelo Governo português, e, por outro, as alterações nos horários escolares em França”, disse o investigador à agência Lusa.
Para este português – que tem uma experiência de mais de duas décadas nas áreas do ensino da língua portuguesa e do movimento associativo em França – se a questão das alterações de horários pode até facilitar a frequência dos cursos de português, o mesmo pode não acontecer com a obrigatoriedade do pagamento de 120 euros anuais.
“Temo que, com esta propina, muitos pais, por razões económicas, não inscrevam os filhos nas aulas de português. Temo que haja uma diminuição do número de alunos”, acrescentou.
Outro dos aspetos de relevo para o futuro do ensino da língua portuguesa em França, destaca o investigador, é a integração do português no currículo francês, a par do que já acontece com o inglês e o espanhol, por exemplo.
“O estatuto da língua portuguesa em França é considerado menos prestigiante para muitas famílias, representando uma sobrecarga horária para os alunos. As aulas são realizadas fora do ambiente escolar normal, ao fim da tarde, às quartas-feiras e aos sábados (dias de repouso). Este facto provoca um sentimento de discriminação nos alunos, e, consequentemente, um sentimento de rejeição da frequência da disciplina”, acrescentou.
O estudo que Adelino Oliveira de Sousa tem em curso está a ser desenvolvido em parceria com a Coordenação das Coletividades Portuguesas de França (CCPF), no âmbito da sua dissertação do Mestrado em Português Língua Não Materna, na Universidade Aberta de Lisboa.
O objetivo é perceber “que estratégias utilizam as associações portuguesas na região de Paris para a valorização e divulgação do ensino de português em França”.
“Em relação à participação financeira das famílias, por exemplo, quero saber o que pensam as associações e os próprios pais, e que impacto terá isso no desenvolvimento do ensino da língua em França”, explicou.
As conclusões deste estudo, que deve estar concluído em junho de 2013, vão ser apresentadas no encontro anual da CCPF, em outubro: “Este estudo pode contribuir para uma política de língua mais descentralizada e atenta às condições locais. Ele pretende lançar propostas de ação para dar mais visibilidade à nossa língua e cultura em França, através da rede associativa da comunidade portuguesa”, concluiu o investigador.
JYF // VM.
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Foto: Foto: Paris. 14 de janeiro de 2012. REMY-PIERRE RIBIERE/LUSA
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