A aula foi longa, mas a vivacidade de Diana Barroqueiro na arte de contar as “estórias” que fizeram a “colossal” História de Portugal seduziu os estudantes, num auditório que se revelou pequeno.
Fizeram muitas perguntas, ‘espicaçado’ que estava o interesse por uma professora irrequieta de mapas em riste e expressivos gestos com que foi ilustrando a “grandeza de feitos sem precedentes”.
“Há 500 anos, os nossos portugueses foram pioneiros (…), vocês têm os genes dessa gente, é o passado que nos ajuda a ser o que somos no presente e a projetar o futuro”, exclamou a autora d’ “O Corsário dos Sete Mares”, fazendo o paralelo com heróis dos tempos modernos como Indiana Jones ou James Bond.
As duras viagens foram o ponto de partida para a ‘navegação’. Falou-se do escorbuto, dos “remédios” da época, dos aventureiros que morriam da cura e, claro, das laranjas da China. Dali a Fernão Mendes Pinto foi um passo e o explorador português tornou-se no centro da narrativa.
“Fernão Mendes Pinto era mentiroso?”, perguntou um dos alunos. Deana Barroqueiro suspirou para ganhar fôlego: “Há tanta coisa para dizer sobre ele que fiz 670 páginas”.
A resposta viria sob a forma de “anedota”: um português estava a pescar caranguejos e ia colocando-os num balde. Um estrangeiro passa e sugere-lhe que tape o balde, caso contrário, os caranguejos podem fugir, ao que o português responde: »os caranguejos são portugueses, portanto, quando um sobe os outros vão deitá-lo abaixo». Isto para dizer que em Portugal dizemos muito mal daqueles que habitualmente se sobressaem”, apontou.
“A “Peregrinação” foi o primeiro grande romance moderno da Europa, não digo do mundo para não ser exagerada. É um romance verdadeiro em que aparece um ‘eu’ igual a mim e a vocês, um aventureiro à procura de uma vida melhor. No entanto, um inglês, mais tarde, veio dizer que se tratava de uma fantasia pegada e ‘toca a dizer que assim era’”, explicou.
Algo que, contou Deana Barroqueiro, Mendes Pinto tinha a perceção de que ia suceder, já que o próprio observou que havia coisas que era melhor não contar. E, só em pleno século XXI, é que um trabalho “brutal” a várias mãos e nacionalidades, vem provar que “grande parte é real”.
“Na época moderna, são os portugueses que desenham o mundo”, frisou, lembrando que quando Cook, com um rombo no navio, avançou em vez de voltar para trás o fez porque sabia que havia um porto melhor. Como? “Tinha um mapa roubado aos portugueses que chegaram antes à Austrália”.
A viagem seguiu para o Japão, com a introdução das armas de fogo pelos portugueses, passando pela famosa ópera que teve “literatura de cordel com a nossa história” como base ou até pelo “The Legend of Suriyothai” (2001), o filme que homenageia a Rainha da Tailândia que se sacrificou na guerra e cujo guião vai beber à “Peregrinação” e ao relatório entregue ao Rei por um capitão de mercenários que lutavam nas hostes do Sião.
“Andámos por todo o mundo. Devem ter muito orgulho nas raízes e em pertencerem a vários mundos”, disse, focando o pioneirismo na globalização, iniciada por Bartolomeu Dias.
Barroqueiro, que precisa de “escrever como de respirar”, também se centrou no seu percurso face às perguntas dos mais novos, curiosos com o livro que mais gostou de escrever.
“Contos Eróticos do Antigo Testamento” foi a resposta, provocando risos de parte a parte, apesar de Deana Barroqueiro já ter falado de sexo e “truca truca”, com desculpas endereçadas aos docentes.
DM // VM – Lusa/Fim
Foto: Alunos da Escola Portuguesa de Macau, 13/09/2005, CARMO CORREIA/LUSA