De mais / Demais

Há, pois. Demais e de mais utilizam-se em situações diferentes. Por exemplo: «João e os demais alunos acharam que o horário tinha aulas de mais para o seu gosto». Tire as suas dúvidas em mais um episódio de «Pontapés na Gramática».

Pontapés na Gramática é um passatempo de língua portuguesa, no qual se abordam incorreções linguísticas frequentes de vária ordem: incorreções de pronúncia, de morfologia, de léxico e de sintaxe. É conduzido pela Joana Dias e conta com os esclarecimentos linguísticos da professora Sandra Duarte Tavares.

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Relativamente à diferença entre demais e de mais, não deve haver hesitação quando esta expressão está a desempenhar uma função de determinante ou pronome indefinido, isto é, quando pode ser substituído por outra, outro, outros ou outras – nesse caso deverá ser sempre utilizada a forma demais (ex.: entregou a certidão, mas os demais documentos serão enviados pelo correio; venderam parte da mercadoria, a demais foi armazenada). Também nos casos em que se trata do advérbio com o significado equivalente a ‘além disso’ ou ‘de resto’, deverá sempre ser utilizada a forma demais (ex.: considerou o resultado insuficiente, demais nunca gostara daquele serviço).As restantes estruturas são problemáticas em português, não só para os utilizadores da língua, mas também para registos em gramáticas e dicionários.

Segundo Rebelo Gonçalves, no seu Vocabulário da Língua Portuguesa, o advérbio demais tratado acima não se deve confundir com a locução adverbial de mais. Esta locução tem significado idêntico a demasiado e constitui uma locução adverbial de intensidade ou de quantificação (ex.: ficou indisposto por comer de mais; achou o trajecto longo de mais). Alguns dicionários como o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia das Ciências de Lisboa/Verbo (2001) ou o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, do Círculo de Leitores (2002), consideram inclusivamente que o uso da forma demais neste contexto é brasileirismo, o que nos parece abusivo se fizermos uma pesquisa em textos portugueses. Celso Cunha e Lindley Cintra (Nova Gramática do Português Contemporâneo, Ed. João Sá da Costa, Lisboa, 1998, p. 538-541), por sua vez, incluem demais na lista dos advérbios de intensidade, sem referência à locução de mais na lista de locuções adverbiais.

Por este motivo, e excluindo os dois contextos referidos inicialmente (ex.: entregou a certidão, mas os demais documentos serão enviados pelo correio; considerou o resultado insuficiente, demais nunca gostara daquele serviço), poderá ser opcional o uso de de mais ou de demais. Por outro lado, a expressão de mais pode ainda corresponder apenas à preposição de seguida do pronome indefinido mais, sem qualquer unidade sintáctica ou semântica (ex.: serviu-se de [mais] arroz; a entrada de [mais] pessoas pode criar problemas de sobrelotação; precisava de [mais] dinheiro) e nesse caso, obviamente, não poderá ser utilizada a forma demais.

FLIP, Helena Figueira, 17/06/2005

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Sandra Duarte Tavares

Sandra Duarte Tavares é doutoranda em Ciências da Comunicação e mestre em Linguística Portuguesa pela Faculdade de Letras de Lisboa. É professora convidada da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa, na Formação Avançada em Técnicas de Alta Performance de Comunicação Oral, e da Universidade Lusófona na Licenciatura de Comunicação Aplicada. Colabora, desde 2008, com a RTP em programas televisivos e radiofónicos sobre Língua Portuguesa e é cronista na Revista Visão (edição digital), integrando a Bolsa de Especialistas. É autora e coautora de vários livros sobre Língua Portuguesa e Comunicação. Conta ainda com 12 anos de experiência como consultora linguística e formadora de Comunicação em diversas empresas e instituições.
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