Díli, 22 nov (Lusa) – A dúvida existencial perseguia Bruno dos Santos, filho de emigrantes portugueses em França, desde que era miúdo: se em França lhe chamavam ‘o português’ e em Portugal lhe chamavam ‘o francês’, de onde é que era afinal.
É da vontade de descobrir e de encontrar as suas raízes, que nasceu a ideia de correr mundo, ou melhor, de pedalar mundo.
Isso e promover a linguagem gestual, sensibilizando para a integração dos surdos e dos mudos no mercado de trabalho e para a integração de outros deficientes: viajam numa bicicleta alemã, com 21 anos, que pode ser usada por quem tenha mobilidade reduzida.
Partiu com a namorada, Ludivine Arnodin (pai mauriciano, mãe francesa) de casa a 27 de setembro do ano passado e depois de 11.128 quilómetros de bicicleta (alguns em avião porque o Paquistão e o Irão são complicados em duas rodas) está em Timor-Leste.
“Já fizemos 10 países. O mais difícil tem sido em alguns locais a humidade ou o calor. Isso e, como na Indonésia, as subidas. Isto aqui nesta zona tem muitas subidas”, diz à Lusa Ludivine Arnodin, 21 anos.
“As subidas são muito ingremes, com uma inclinação muito pronunciada. No outro dia tivemos que empurrar uma bicicleta num vulcão quase 30 quilómetros. Aqui há muitos vulcões”, acrescenta Bruno dos Santos.
Ainda só houve três ou quatro furos, o primeiro na India, onde o casal passou três meses, e o objetivo é continuar a viajar “até lá para 2017 ou 2018”, dependendo do rumo que a vida do casal tome.
A ideia, na verdade, até começou quando estava a andar de carro, numa viagem, quando tinha oito anos, a primeira que fez entre Houilles, a norte de Paris – Bruno nasceu em França -, e Portugal – o pai é de Mirandela e a mãe de Sabugal.
“Comecei a pensar que seria espetacular fazer a viagem de bicicleta. No início a minha mãe ria-se mas eu nunca deixei de pensar naquilo”, explica o ciclista de 32 anos, que garante não querer, no fim da viagem, voltar a França.
E de tal forma manteve a ideia que aos 17 abriu conta no banco e começou a trabalhar para juntar as poupanças com que está a viajar: o mais caro são as viagens de avião que pontualmente são necessárias (para evitar o Paquistão e o Irão, por exemplo).
Fez a primeira grande viagem de bicicleta em 2006, entre França e Portugal, mas não foi suficiente. E por isso a começou a planear outra, com calendário flexível mas “organizada”.
Teve que antecipar ligeiramente a previsão para ir a Timor-Leste para estar no país por ocasião dos 500 anos da chegada dos portugueses à ilha e, por isso, na segunda-feira partem, de barco, para o enclave de Oecusse.
“Aprendes tanto, encontras tantas pessoas que nem sei o que vou fazer depois disto”, confessa.
A surpresa, o inesperado de cada dia na estrada são o maior desafio e a maior atração da viagem: o cansaço rapidamente esquecido com “o coração aberto” de uma família que lhes oferece dormida ou uma refeição.
“Em pouco tempo, parece que os conhecemos há muito tempo. É a força da viagem. A viagem que nos mostra que somos todos iguais em todo o lado. Queremos ter família, ter trabalho, encontrar pessoas boas ao nosso lado”, afirma.
“Diariamente sentimos o coração cheio”, diz.
De Timor-Leste o casal viaja para Singapura e daí para Maurícias.
“Vai ser a primeira vez que a Ludivine vai ao país conhecer a sua família”, explica.