Mas, ao contrário da era colonial, as saídas de pessoas não são compensadas pelas entradas de recursos naturais ou de metais preciosos. Os emigrantes europeus estavam habituados a contribuir para a glória das suas pátrias; agora, o seu êxodo está a contribuir para o declínio da Europa.
Numa tentativa extrema de resolver a falta de emprego no seu país, o primeiro-ministro português, Pedro Passos Coelho, aconselhou recentemente os jovens desempregados do seu pais a emigrarem para as antigas colónias portuguesas, como o Brasil ou Angola. No ano passado, pela primeira vez desde 1990, a Espanha era um exportador líquido de pessoas, com 31% dos emigrantes a irem para a América do Sul. Mesmo em países sem passado imperial, mas com uma longa tradição migratória, como a Irlanda, a fuga de cérebros para a Austrália e para a América do Norte está a acelerar.
A gravidade da recessão económica na Europa, as deficiências no projecto do euro e as medidas fiscais de austeridade mal concebidas alimentam o êxodo. Mas o principal impulsionador é a cultura, não a economia. O alto grau de fragmentação linguística da Europa não permite que a zona euro amorteça uma crise auto-infligida, por isso as pessoas deslocam-se para fora da zona monetária, em vez de se deslocarem dentro dela.
A mobilidade dos trabalhadores dentro de uma área monetária representa um mecanismo chave de adaptação, para preservar a eficácia da política monetária contra as assimetrias nos choques regionais: em teoria, os trabalhadores da periferia da zona euro retraída devem fluir para o núcleo em expansão. Na prática, a barreira da língua prejudica esta válvula de segurança. Deste modo, o Sul da Europa está a perder os seus melhores talentos, o Norte da Europa está a esforçar-se para preencher as vagas de emprego e toda a Europa está a tornar-se mais pobre.
A diversidade linguística na Europa é imensa. Treze línguas oficiais dos seis ramos distintos do grupo indo-europeu de línguas – germânico, eslavo, urálico, românico, celta e grego – são faladas na zona euro. Adicione uma infinidade de dialectos regionais, que só na Itália equivalem a cerca de 20 (com diversas variantes cada). Em muitas regiões secessionistas, como a Catalunha em Espanha, elas são de facto o idioma oficial.
As implicações dessa diversidade linguística são profundas. A língua não é apenas um meio sistemático de comunicar. É um sinal de identidade, cultura e orgulho nacional. De acordo com a maioria dos especialistas, os processos linguísticos moldam a forma como as pessoas percebem o mundo, como elas vivem as suas vidas e, finalmente, a sua mentalidade.
O mesmo conceito, expresso com palavras diferentes, em línguas diferentes, gera emoções diferentes. Na verdade, a indiferença da Alemanha perante a dor infligida na Grécia está inscrita na sua língua. Em inglês, como em várias outras línguas europeias, o termo austeridade deriva do grego austeros, que significa duro e severo, enquanto para os alemães é apenas um plano tecnocrático de poupança, um Sparprogramme. Ler o artigo completo