CPLP/20 anos: Comunidade “não é um produto acabado”

Maputo, 18 jul (Lusa) – O ex-Presidente moçambicano Joaquim Chissano, um dos chefes de Estado fundadores da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), considera que, em 20 anos, a organização pertence cada vez mais aos respetivos povos mas “não é um produto acabado”.

“Antes pelo contrário, é uma instituição em evolução constante, com uma visão que se atualiza e se adapta aos tempos que correm, com iniciativas e resultados que a tornam cada vez mais relevante para os governos e cidadãos dos estados-membros e atrativa aos olhos do mundo”, afirma Chissano, num depoimento escrito enviado à Lusa em Maputo por ocasião dos 20 anos da comunidade, cujas celebrações decorrem hoje em Lisboa.

O ex-Presidente moçambicano recorda que, logo nos primeiros anos, a comunidade foi confrontada com a crítica de que era uma organização mais de governos do que dos povos, e que ainda persiste, mas de que discorda.

“Esta realidade mudou substancialmente”, declara, sustentando que “não há nenhum domínio de atividade económica, social ou cultural em que os estados-membros não cooperem entre si”.

No desporto, Joaquim Chissano aponta os jogos da CPLP, cuja décima edição decorre em Cabo Verde, como “uma das mais elevadas expressões da cooperação”, reunindo futuros quadros e dirigentes da comunidade e forjando-se “amizades que poderão durar vidas inteiras” e talvez um dia parcerias de negócios e outras iniciativas comuns.

Embora sustente que 20 anos “é pouco tempo para uma organização internacional” e reconheça que “a necessidade de tornar a CPLP mais conhecida pela maioria dos cidadãos”, Chissano menciona a criação da Confederação Empresarial da CPLP e da Federação de Mulheres Empresarias e Empreendedoras da CPLP como exemplo de que a cooperação deixa de ser “exclusivamente entre Estados e cada vez mais entre povos”.

Por outro lado, considera que “a CPLP tem sabido desenvolver-se como uma organização de prestígio”, bem como num espaço com elevado potencial económico e de negócios e só isso permitiu o alargamento da comunidade a nove países e o aumento de Estados observadores, alguns dos quais com aspirações a membros de pleno direito.

“O espaço CPLP é o quarto maior produtor de petróleo e, dentro de poucos anos, julgo que também ocupará um lugar cimeiro na produção e processamento do gás natural”, salienta Chissano, elencando ainda o potencial agrícola, pecuária, silvicultura, pesca, turismo e energia solar e eólica.

O principal desafio, defende, é criar riqueza, através do investimento interno e externo, sob pena de aquele potencial não passar de tal e não contribuir para elevação dos níveis de vida e os povos permanecerem “presos na guilhotina da pobreza”.

O ex-estadista avisa que o investimento externo deve ocorrer “dentro de padrões de respeito da cultura e das normas” dos respetivos países e “não apenas um mero exercício económico de trazer dinheiro para gerar mais dinheiro”, sugerindo a criação de parcerias locais com vantagens para todos.

“Se assim agirmos, estaremos a dar mais força e consistência ao nosso espaço comum, fazendo com que a CPLP seja um modelo de cooperação profícua entre os nossos povos”, declara.

Chissano recorda que, há 20 anos, nos debates iniciais, havia duas conceções distintas, uma delas “defendendo a difusão da língua portuguesa e a concertação político-diplomática como os únicos objetivos estatutários da organização”.

A outra, prossegue, “concordando com aqueles objetivos, sim, mas advogando a necessidade de também se acrescentar a cooperação em outros domínios entre os Estados-membros”.

O debate entre estas duas visões “foi prolongado”, mas, no final, “acabou prevalecendo o bom senso, que permitiu acolher aqueles três objetivos nos estatutos iniciais da CPLP, que afinal nem eram contraditórios”.

A CPLP, diz ainda Chissano, “demonstrou que é possível o estabelecimento de uma cooperação efetiva”, apesar da sua descontinuidade geográfica, “desde que se alcancem consensos na definição de valores e interesses comuns”.

HB // VM – Lusa/Fim

 

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