Bissau, 12 jul (Lusa) – O sociólogo guineense Dautarín da Costa considera difícil que alguém se sinta integrado na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) porque faltam benefícios que identifiquem a organização.
“As pessoas reconhecem valor quando sentem as coisas na sua própria vida”, como por exemplo, viajar para Portugal e “não precisar de visto” ou desfrutar de oportunidades de “estudo ou trabalho de forma especial” dentro da comunidade.
Exemplos de uma CPLP aperfeiçoada, uma “comunidade onde se possa circular, trabalhar, partilhar experiências e oportunidades numa dinâmica recíproca”.
“Se a CPLP conseguir dar este salto, conseguiremos ter grandes avanços e a organização conseguirá entrar na representação coletiva dos cidadãos que a integram”, refere.
Pelo contrário, o sociólogo considera que hoje “as pessoas não se sentem integradas na CPLP”. “Nem sequer veem esta organização. Sabem que existe, veem uma sigla, nada mais”.
No caso da Guiné-Bissau, se se tiver como indicador “a representação coletiva que os guineenses têm do que é a CPLP”, o investigador considera que “a imagem da comunidade tem vindo a degenerar-se”.
“É uma espécie de potencial não concretizado”, porque além da afinidade da língua, há relações de proximidade muito grandes.
Os membros da CPLP “são países que partilham vários momentos da sua história”. “Ou seja, em determinados momentos é muito difícil falarmos de nós sem falarmos dos outros”, exemplifica Dautarín da Costa.
O que falta “é um investimento em bloco de todos os países na melhoria” da organização, começando pelo contributo da Guiné-Bissau, que segundo Dautarín deve deixar de olhar para as organizações internacionais apenas numa lógica de doadores.
E os investimentos e contributos de que se fala não são necessariamente financeiros.
O grande problema da CPLP “não é o dinheiro”, mas sim “as ideias que escasseiam ou a falta de vontade política” em transformar a comunidade “num verdadeiro espaço de oportunidades para todos que o integram”.
“Mas isso não quer dizer que, por ter entrado numa dinâmica de degeneração, que o potencial deixou de existir. Ainda há muito para fazer e a CPLP pode transformar-se numa coisa bastante útil”, conclui.
LFO // VM – Lusa/Fim
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