Santo Domingo, 23 mar 2023 (Lusa) – A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), que vai tornar-se observador consultivo da Conferência Ibero-Americana, reforçará a cooperação com aquela organização, em áreas como a saúde e alimentação, justiça e língua, disse hoje o seu secretário-executivo.
Zacarias da Costa, que discursou esta manhã no encontro de trabalho dos observadores consultivos que antecede a XXVIII Cimeira Ibero-Americana, na República Dominicana, começou por dizer que a organização será aceite como observador consultivo da organização e realçou a cooperação que as duas entidades têm para “desbravar”, apresentando os quatro eixos de atuação do plano de candidatura da CPLP.
“É com enorme satisfação que participo nesta reunião na qualidade de secretário-executivo da CPLP, uma vez que obteremos formalmente, na cimeira de Santo Domingo, o estatuto de Observador Consultivo da Conferência Ibero-Americana, o que muito nos honra, bem como aos nove Estados-membros”, afirmou Zacarias da Costa, acrescentando que “a CPLP e a Ibero-América têm fortes ligações e um vasto potencial de cooperação a desbravar”.
O encontro, que contou com a presença do secretário-geral ibero-americano, Andrés Allamand, e do ministro das Relações Exteriores da República Dominicana, Roberto Alvarez, decorreu no âmbito da cimeira ibero-americana, que se realiza entre sexta-feira e sábado na capital da República Dominicana, Santo Domingo, em que participa o Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa.
As duas organizações, que têm dois Estados-Membros em comum – Brasil e Portugal -, já partilham, por este motivo, o português como língua oficial e de trabalho.
Além disso, alguns Estados-membros da Ibero-América – Andorra, Argentina, Chile, Espanha, Peru e o Uruguai – são observadores associados da CPLP.
E, na próxima cimeira da CPLP, que terá lugar em São Tomé e Príncipe no verão, o Paraguai deverá aderir também como observador associado, anunciou hoje o secretário executivo da CPLP, adiantando que a Colômbia também já formalizou a sua vontade de se associar à comunidade de língua portuguesa.
“Juntas, a língua portuguesa e espanhola representam uma comunidade de cerca de 850 milhões de pessoas, estimando-se que atinja 1,2 mil milhões de pessoas em meados do século XXI, originando um incremento muito significativo destes dois idiomas na esfera digital, no mundo dos negócios e na produção científica”, referiu.
Agora, e de acordo com o plano de trabalho da candidatura da CPLP a observador consultivo, quatro eixos serão privilegiados na sua atuação conjunta.
“O primeiro é a igualdade de género, em que para além da troca de boas práticas, vamos trabalhar no âmbito do curso ibero-americano “Yo sé de Género”, que será traduzido para português e divulgado, com as devidas adaptações, nos nossos Estados-membros”, indicou o responsável da CPLP, na sua intervenção de hoje.
Em segundo lugar, será trabalhado entre as duas organizações o nexo entre saúde, segurança alimentar, ambiente e água, tendo como objetivo a “melhoria das políticas públicas para estes setores”, através da criação de um fórum conjunto que identifique projetos de interesse comum, articulação de estratégias e troca de experiências, realçou.
O terceiro eixo proposto pela CPLP para ser trabalhado entre as duas organizações diz respeito ao setor da justiça.
“Pretendemos reforçar a cooperação jurídica e judiciária internacional, e que culminará com a realização do segundo encontro da Conferência de Ministros da Justiça dos Países da CPLP e da Ibero-América, até ao final de 2024”, anunciou Zacarias da Costa.
O primeiro encontro teve lugar em Tenerife, em 2021.
Por último, pretende-se que haja um reforço do português como língua de produção e comunicação científica entre os Estados da CPLP e da Ibero-América.
“Queremos realizar iniciativas de promoção linguística, como a publicação de edições conjuntas em matéria de políticas linguísticas e de metodologias de divulgação global”, afirmou.
Mas também criar um fórum vocacionado para partilha de indicadores e metodologias sobre produção científica, “tendo em vista capacitar as instâncias de ensino superior de ambas as partes”, adiantou.
Para Zacarias da Costa, “a concessão mútua de um estatuto privilegiado de parceria vem dotar a CPLP e a Conferência Ibero-Americana de ferramentas suplementares para concretizar o vasto potencial de cooperação” entre ambas as organizações, mesmo através da cooperação Sul/Sul e da cooperação trilateral.
“Conto, na próxima cimeira, dar-vos nota dos resultados alcançados, que auguro de positivos e benéficos para os nossos Estados-membros e as suas populações”, concluiu o secretário-executivo da CPLP.
Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste são os nove Estados-membros da CPLP.
A Comunidade Ibero-Americana é constituída por 22 países: 19 da América Latina de língua espanhola e portuguesa, e na Península Ibérica, Espanha, Portugal e o Principado de Andorra.
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