Em entrevista à Lusa, o investigar e co-autor de um livro sobre o valor económico da língua portuguesa explica que “a grande vantagem do reforços dos laços comerciais entre os países lusófonos é a de evitar a exposição às crises sistémicas das regiões onde cada um está inserido, fornecendo uma válvula de escape”.
O académico exemplifica com Portugal e Brasil, dizendo que “até há pouco tempo era Portugal que parecia que estava submerso num mar de problemas, ao passo que os outros lusófonos estavam bem, mas agora é o Brasil que tem o seu mais importante vizinho em grande crise, o que o prejudica”, e daí a importância das conversas entre os ministros das Finanças dos países da CPLP.
Assim, continua, a grande vantagem da diferenciação entre os países da CPLP potencia-se se existirem “investimento recíprocos fortes, nomeadamente dos fundos soberanos [de Angola e de Timor-Leste], para além das empresas, e por isso Portugal devia apostar de forma mais significativa nos mercados lusófonos, nomeadamente o Brasil, evitando a exposição às crises sistémicas das regiões”.
“A proximidade linguística facilita os negócios, facilita o Investimento Direto Estrangeiro no interior dessa região, potencia as migrações, porque as pessoas gostam mais de ir para ou de países com a mesma língua, e beneficia o turismo”, diz José Esperança, lembrando, por exemplo, que mais de 50% dos imigrantes em Portugal são de países onde se fala português.
É este valor económico da língua que motiva este académico a defender que “é preciso fazer progressos nas relações comerciais entre os países da CPLP”, lamentando que obter um visto para Angola ou para Moçambique ainda obrigue a uma “burocracia complicada”.
Questionado sobre um dos aspetos mais falados nas relações comerciais dentro da CPLP – a livre circulação de bens, pessoas e capitais, à semelhança do que acontece na União Europeia, por exemplo -, José Esperança considera que “é preciso fazer progressos nessa área”, mas lembra os constrangimentos das regras europeias, mas também de alguns países como Angola e Moçambique, que “colocam problemas à mobilidade de portugueses e de mercadorias, que poderiam ser aligeirados se houvesse boa cooperação institucional.
O protecionismo “tem a vantagem de favorecer o local, mas é muito maléfico para o consumidor, porque os produtos tornam-se extraordinariamente caros”.
Noutros casos, como Moçambique, “o protecionismo tem outro rosto, mostra-se pela proteção ao emprego dos locais em detrimento dos expatriados” mas “isto não é uma boa política económica, porque a liberalização de pessoas e bens tem grandes vantagens para o desenvolvimento dos países e para recuperarem muito mais rapidamente de atrasos tecnológicos do que com esse tipo de barreiras”, alertou.
MBA // PJA – Lusa/Fim
Fotos:
– José Paulo Esperança em Macau;
– Reunião dos Ministros das Finanças da CPLP em Maputo, Moçambique, 21 de fevereiro de 2014. ANTÓNIO SILVA / LUSA