Mindelo, Cabo Verde, 19 jul 2019 (Lusa) – O ministro das Relações Exteriores brasileiro, Ernesto Araújo, afirmou hoje que a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) é “uma prioridade total” para o Brasil e um exemplo internacional para os relacionamentos multilaterais.
“A CPLP é uma prioridade total para o Brasil. É uma das coisas mais especiais que nós temos porque é um fórum que ninguém tem. É um fórum que reúne países de quatro continentes em torno de uma herança cultural comum, que é algo muito profundo para nós”, afirmou, em entrevista à Lusa, o ministro Ernesto Araújo.
O chefe da diplomacia do Brasil falava hoje, no Mindelo, ilha cabo-verdiana de São Vicente, onde participou na XXIV reunião ordinária do conselho de ministros da CPLP, tendo elogiado a “atmosfera de amizade” e de “fraternidade”, que “é muito especial”, dentro da organização.
A posição surge depois de uma abordagem inicial do Presidente brasileiro, Jair Bolsonoro, empossado no cargo no início do ano, que assumiu, então, privilegiar as relações bilaterais do Brasil no plano internacional.
“Nós queremos trabalhar com todas as geometrias. O que nós vemos às vezes como problemático nas dimensões multilaterais não são os fóruns multilaterais em si mesmo – estou a falar sobretudo daqueles do sistema das Nações Unidas -, mas a maneira como eles são conduzidos. Muitas vezes com agendas que não são feitas pelos países-membros, que são feitas pelos respetivos secretariados, que são feitas por organismos não-governamentais cuja intenção, às vezes, desconhecemos. Isso é que nós estamos a tentar fazer, recolocar as nossas posições nesses organismos”, explicou Ernesto Araújo.
“A CPLP é um excelente exemplo de um fórum onde os países-membros e o secretariado funcionam em absoluta sintonia, numa cooperação muito profícua”, acrescentou.
Ernesto Araújo destacou igualmente que os países da CPLP são os “principais parceiros de cooperação” do Brasil.
“É uma vertente que é importante para nós também, a cooperação sempre nos traz muito, além de termos a oportunidade de contribuir para o desenvolvimento dos outros países da comunidade. Estamos a tentar encontrar, inclusive, novas alternativas de financiamento para essa cooperação”, apontou.
A “vertente da consolidação da democracia” por parte da CPLP foi igualmente elogiada por Ernesto Araújo que, pela primeira vez, participou numa reunião do conselho de ministros da organização.
“A CPLP, acho que, tem, desde o começo, essa vocação de ser uma comunidade construída por países que anseiam pela liberdade, pela democracia, e isso também é uma prioridade para nós. E essa conexão com países de quatro continentes em torno de ideias comuns tem absolutamente tudo a ver com aquilo que nós queremos fazer, com essa conceção do lugar do Brasil no mundo”, garantiu.
Como exemplo desse posicionamento, Ernesto Araújo referiu o caso do Mercado Comum do Sul (Mercosul), comunidade de integração regional da América Latina fundada em 1991 pelo Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, que após algum afastamento no início do mandato de Jair Bolsonaro volta agora a estar no horizonte do Governo brasileiro.
“O Mercosul era uma coisa. O Mercosul era um fórum que estava a ser aproveitado para esforços diferentes dos esforços de integração, estava a isolar-nos do resto do mundo. Então, nós transformámos esse bloco, agora, numa plataforma de ligação com o resto do mundo, fechámos o acordo do Mercosul com a União Europeia. Então, é uma reconceção dos fóruns multilaterais ou regionais”, concluiu.
Integram a CPLP Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Portugal, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.