Coimbra, 13 dez (Lusa) – O antigo presidente timorense José Ramos-Horta afirmou hoje, em Coimbra, que a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) é um “instrumento de segurança para a manutenção” de Timor-Leste como Estado independente e soberano.
José Ramos-Horta, que discursava num evento promovido pela Universidade de Coimbra, referiu que “Timor já poderá integrar a ASEAN [Associação de Nações do Sudeste Asiático] em 2017 ou em 2018”, reforçando a sua “ação diplomática na região”.
No entanto, apesar dessa possibilidade, a CPLP “continua a ser muito importante”, nomeadamente para a “preservação e consolidação da identidade específica de Timor-Leste”, disse o ex-presidente de Timor-Leste, que recebeu, em conjunto com o bispo Ximenes Belo, o Prémio Nobel da Paz em 1996.
Ramos-Horta recordou hoje em Coimbra, numa sessão evocativa dos 20 anos do seu Nobel, que Portugal, bem como os países africanos de língua portuguesa e o Brasil, “ajudaram a manter a questão de Timor Leste na agenda” das Nações Unidas, sublinhando o papel decisivo de António Guterres em convencer o na altura Presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, “a assumir uma posição”.
O ex-presidente de Timor-Leste discursava depois da exibição de um documentário do jornalista Max Stahl, que abordava o papel da língua na construção da nação e onde era possível perceber a dificuldade de penetração da língua portuguesa na sociedade timorense.
Apesar de a língua portuguesa ter tido um papel muito importante na resistência contra a ocupação indonésia, hoje o bahasa indonésio tem uma grande presença, face à grande influência da televisão, notou Ramos-Horta.
No entanto, o Prémio Nobel da Paz sublinhou que a evolução da presença da língua não se faz “em cinco ou dez anos”, recordando que, se em 1974 “menos de 10% falavam português”, hoje são cerca de 23%.
Numa espécie de balanço dos 16 anos de independência de Timor, Ramos-Horta elencou várias conquistas conseguidas em menos de duas décadas.
A mortalidade infantil “baixou em mais de 50%”, a esperança média de vida passou dos 50 anos em 1999 para perto dos 70 anos, não há pena de morte nem prisão perpétua, as minorias étnicas não são discriminadas e se em 2002 havia 19 médicos timorenses, hoje registam-se cerca de mil, 700 dos quais formados em Cuba, salientou.
Ramos-Horta discursava numa sessão evocativa da Universidade de Coimbra dos 25 anos do massacre de Santa Cruz e dos 20 anos do Nobel da Paz atribuído ao bispo Ximenes Belo e a José Ramos-Horta.
No evento, que decorreu no Teatro Académico de Gil Vicente (TAGV), participou também o bispo católico Ximenes Belo e o ministro Adjunto Eduardo Cabrita.
JYGA // ARA – Lusa/Fim
Documentário inédito de Max Stahl exibido na Universidade de Coimbra