Francamente… em inglês

            A falar é que nos... understand each other
Venho há tempos mantendo uma interessantíssima conversa com um madrileño que está a terminar uma tese sobre a questão da esfericidade da terra no mundo clássico e medieval, daí ter descoberto escrevinhações minhas. Entrou em contato comigo através do Academia.edu e tem sido uma intensa e gostosa conversa, cujo beneficiário sou eu.
O Pablo é poliglota. Consegue ler português, porém não fala. Então o nosso diálogo é em inglês. Ontem, leu a minha entrevista ao Expresso em que eu dizia que vivemos num Zoomlógico e escreveu-me logo a dizer que era isso mesmo, também se sente enjaulado num zoomlógico, pois trabalha para um organismo europeu e agora não viaja, é tudo via Zoom. Estava inteiramente de acordo. Mas logo de seguida, e sem pestanejar, perguntava-me se não eu estaria disposto a ter com ele uma conversa via Zoom.
Fez-me lembrar a piada que Schopenhauer conta do austríaco (para os alemães, o austríaco é o patego). Quando um alemão lhe disse que gostava de passear sozinho, o austríaco respondeu: Também eu. Então porque não passeamos juntos?
A verdade é que eu estava curioso porque o Pablo já me tinha enviado escritos seus de grande calibre. Combinámos então a conversa para hoje. Ao fim de uma hora e meia, tive de pedir para interrompermos por via de outro compromisso, sugerindo  continuação na próxima semana.
A dada altura dizia-lhe eu:
– Pablo, estás a ver o que resta dos nossos impérios? Tu, espanhol, e eu, português, aqui a falar em inglês para nos entendermos…
Diz ele então: Pois é. Estou numa comissão europeia. Éramos 31 representantes de todos os países da União Europeia e mais três que não fazem parte mas estão envolvidos no nosso projeto. Agora somos só 30 porque o Reino Unido saiu. Há pouco tempo, ríamo-nos numa reunião quando um membro se lembrou de dizer: Já viram? Os ingleses abandonaram-nos, mas deixaram-nos a língua que nos permite entendermo-nos.
Subscreva as nossas informações
The following two tabs change content below.
Imagem do avatar

Onésimo Teotónio Almeida

Onésimo Teotónio Pereira de Almeida - Natural de S. Miguel, Açores, é doutorado em Filosofia pela Brown University em Providemce, Rhode Island (EUA). Nessa mesma universidade é Professor Catedrático no Departamento de Estudos Portugueses e Brasileiros, bem como no Center for the Study of the Early Modern World e no Wayland Collegium for Liberal Learning. Autor de dezenas de livros. Alguns dos mais recentes: Despenteando Parágrafos, A Obsessão da Portugalidade, e O Século dos Prodígios. A ciência no Portugal da Expansão, na área do ensaio. Em escrita criativa: Livro-me do Desassossego, Aventuras de um Nabogador e Quando os Bobos Uivam. Co-dirige as revistas Gávea-Brown, Pessoa Plural e e-Journal of Portuguese History bem como a uma série de livros sobre temática lusófona na Sussex Academic Press, no Reino Unido. É membro da Academia da Marinha, da Academia das Ciências e doutor Honoris Causa pela Universidade de Aveiro.
Imagem do avatar

últimos artigos de Onésimo Teotónio Almeida (ver todos)

Scroll to Top