Conhecimento científico português e relação com Brasil e África

A mostra, que fica na Oca, do Parque Ibirapuera, até o dia 24 de abril, busca o diálogo entre arte e ciência, com a união de peças raras do acervo da Universidade de Coimbra e de colecionadores, além de produções de artistas contemporâneas, segundo a organização.

“A Oca é esférica e permite que a exposição construa um atlas. E a ideia do itinerário é seguir a cartografia e a metáfora do viajante, onde cada um percorre e constrói o caminho”, afirmou à agência Lusa o curador Bernaschina.

A exposição, realizada pela primeira vez em 2011, na comemoração de cem anos da Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra, em Portugal, chega a São Paulo para marcar os dez anos do Museu Afro-Brasil, um dos seus organizadores no país.

A ideia inicial era que a mostra ocorresse de forma itinerante durante o Ano de Portugal, que acabou em meados de 2013, mas não houve apoio financeiro a tempo. Em São Paulo, a mostra possui uma versão ampliada.

A base para a exposição, de acordo com o curador, parte da relação entre os professores e diretores da universidade com a construção do conhecimento científico em Portugal, após a refundação da instituição, na Era do Marquês de Pombal (1699-1782), e a introdução do ensino das ciências na educação superior.

No Brasil, o impulso científico ganhou força no início do século XIX, com a chegada da família real portuguesa e a abertura dos portos, que favoreceu a entrada de naturalistas estrangeiros. Os estudos expandiram-se para África no decorrer do mesmo século, segundo os organizadores da mostra.

Entre os documentos, peças e obras expostos, há cartas com desenhos sobre as guerras guaraníticas de 1755, astrolábios, lunetas, cartas geográficas, mapas do engenheiro italiano Miguel Ciera no século 18, desenhos do nobre português Luís António Morgado de Mateus, que governou a capitania de São Paulo, e retratos como o de dom Francisco de Lemos (1735-1822), nascido no Rio de Janeiro e um dos reitores da Universidade de Coimbra.

Bernaschina realçou a presença de herbários de Friedrich Welwitsch, que comprovam a existência das mesmas plantas em Angola e no Brasil, e da rescisão de José Bonifácio de Andrada e Silva com a universidade, personagem que viria a ser o patrono da independência brasileira.

As criações artísticas balizam a narrativa da mostra. Há peças, por exemplo, que remetem para as especiarias e possuem cheiro.

Nas suas obras, os artistas tratam também das relações de poder.

“Falo de política, de escravatura e de desporto”, afirmou à Lusa o angolano Yonamine, que estava hoje a construir o seu mural na exposição, com imagens como a de seus compatriotas expostos como escravos.

Entre os artistas contemporâneos que participam da mostra estão também os portugueses Miguel Palma, Ana Vieira, Gonçalo Pena, Cristina Ataíde e João Fonte Santa, entre outros.

 

Veja o vídeo:

FYB // ARA – Lusa/Fim


Fotos:

– Uma técnica prepara um quadro durante a visita guiada à exposição “360.º Ciência Descoberta” para a comunicação social, 28 de fevereiro de 2013 na Fundação Calouste Gulbenkian em Lisboa. Esta exposição trouxe pela primeira vez a Portugal peças ilustrativas deste período dourado da ciência Ibérica, como mapas e manuscritos raros, produtos naturais, instrumentos e livros.

– Um rinoceronte embalsamado na exposição “360.º Ciência Descoberta” .

TIAGO PETINGA/LUSA

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