Depois de tantos séculos de separação política e cultural podemos afirmar hoje que o galego e o português são ainda a mesma língua?
Quando você fala comigo eu vejo que é um português antigo, mas eu vejo que a essência portuguesa está presente em você muito mais que se você falasse espanhol, que é tão próximo também! Nossa, mas há uma distância muito grande. Os falantes de português não identificam o galego como a mesma língua, mas isso vem da mesma falta de interesse da própria sociedade.
Eu acho que é uma tarefa ingrata porque pra nós inclusive, galego, a palavra galego significa “português pobre”. O português que veio aqui trabalhar, puxar carroças, esse é que é o galego. Assim como, por exemplo, entre o árabe quando chega aqui de qualquer etnia e pobre, é um turco. Depois, ele melhora de vida e passa a árabe. E depois, se ele consegue enriquecer ele é o libanês.
Há linguistas hoje no Brasil que defendem que o português do Brasil já é uma língua diferente. Que opinião tem o senhor sobre isso?
Sim, a língua brasileira, o PB. O mundo moderno é um mundo de integração, ainda mais a integração com a lusofonia, apesar das desavenças internas que há (gente que concorda com a existência duma lusofonia, outros não), mas por formação e por convicção, eu acho que nós ainda somos uma língua só. Evidentemente com variantes naturais.
O mundo moderno caminha para uma convergência. Os blocos caminham para uma aproximação maior e justamente essa é a aproximação maior dos lusófonos.
E essas variantes deveriam introducir-se na norma culta?
Isso vai depender dum estudo que não está feito. Por enquanto, muita coisa está na fase do achismo (eu acho isso…).
Um amigo meu, o professor Raimundo Barbadinho, já falecido, escreveu um trabalho sobre a língua dos modernistas. Esse trabalho começou para mostrar justamente as diferenças, mas depois de ele levantar os modernistas e estudá-los, chegou à conclusão de que os modernistas estavam muito mais próximos dos portugueses do que de uma possível língua brasileira. E a Raquel de Queirós, que fez o prefácio desse livro, disse que depois de confrontar aqueles fatos de língua que seriam determinantes para mostrar a separação, esses fatos mostraram que brasileiros e portugueses estão muito mais próximos. Ela dizia que depois dos estudos do Barbadinho chegou à conclusão de que os modernistas eram muito mais comportados do que revolucionários da língua.
Hoje há políticos, ratazanas da política que dizem o seguinte: “se você quiser enfraquecer o inimigo, divida-o”. Agora, o mundo moderno caminha para uma convergência. Os blocos caminham para uma aproximação maior e justamente essa é a aproximação maior dos lusófonos. Vai fazer com que em vez de as línguas, por exemplo, o português da África, o do Brasil, o de Portugal, em lugar de se separarem, se aproximem.
No último congresso que houve em Portugal agora, um catedrático duma universidade do norte do país imaginou um cânone literário. Quer dizer, cada país de língua oficial portuguesa escolheria para uma antologia os seus principais representantes e essa antologia serviria de estudo de língua para todos os países de língua portuguesa.
E aí poderíamos entrar os galegos e galegas?
Aí seria a vez de entrarem os galegos. O problema dos galegos é que antes de entrar no grupo, eles têm um problema para resolver entre eles em virtude da distinção que há: uns que querem que o galego se aproxime do espanhol, outros que querem que o galego se aproxime do português e outros que querem que o galego seja independente. Leia o artigo completo.