A Cimeira sobre Inovação em África, que terminou na quinta-feira em Cabo Verde, lançou as bases para envolver o setor privado, havendo agora a necessidade de implicar os governos africanos, disse hoje à Lusa fonte da organização.
“A principal recomendação é que é necessário continuar, pois sentimos essa necessidade. Ficou patente que, em África, precisamos deste tipo de encontros, com diferentes atores, e que ainda não há comunicação suficiente entre eles”, disse José Brito, num balanço aos três dias de trabalhos.
José Brito é presidente da Ihaba – Building Enterprises, uma pequena empresa cabo-verdiana que organizou a conferência na Cidade da Praia, que reuniu mais de 250 especialistas, entre políticos, empresários, investigadores e inovadores de cerca de três dezenas de países, maioritariamente africanos.
“Todos nós, empresas e redes de trabalho espalhadas pelo continente, temos o mesmo objetivo: transformar África. Mas ainda se funciona de forma isolada. Daí que, agora, se tenha de continuar. Este início é, para mim, o principal resultado”, referiu.
Para tal, acrescentou o antigo chefe da diplomacia de Cabo Verde, atual presidente da incubadora de empresas cabo-verdiana, é necessário um esforço para influenciar os decisores políticos do continente, para que as políticas públicas dos diferentes países possam ir ao encontro da modernização tecnológica de África.
“Não controlamos a União Africana (UA), mas podemos influenciar. Tivemos aqui o comissário para a Ciência e Tecnologia da organização e espero que tenha tomado nota da cimeira. A CEDEAO também. O mais importante é criar um movimento de influenciação junto dos decisores políticos para tomar as decisões e esperamos que tudo seja possível”, indicou José Brito
“Seria pretensioso da nossa parte pensar que podemos mudar o comportamento (das lideranças em África). É apenas um fenómeno de influenciação e esperamos que, todas as redes presentes na reunião, possamos influenciar também as lideranças”, disse.
José Brito salientou que a presença de um “peso pesado” do continente africano presente na cimeira, o Presidente do Ruanda, Paul Kagamé, pode ajudar também sobretudo junto da UA.
“Paul Kagamé ficou sensibilizado para a questão, pois já tinha iniciado um processo idêntico no Ruanda. Vai ajudar, pois percebeu há muito que tudo isto tem de ser um esforço continental”, indicou, aludindo também, às presenças do presidente cabo-verdiano, Jorge Carlos Fonseca, e dos ex-chefes de Estado de Cabo Verde Pedro Pires e moçambicano Joaquim Chissano.
O objetivo é levar à implementação de políticas públicas que promovam e apoiem a investigação e a inovação, espaço que deve ter em conta o setor privado, para evitar grandes burocracias, disse.
“Aí há a vantagem do setor privado estar envolvido no processo porque, muitas vezes, o grande problema são as decisões políticas, a nível dos chefes de Estado. Ficamos parados porque os atores principais de implementação das medidas estão fora das decisões. Cada um, do seu lado, deve fazer alguma coisa para implemente o processo, embora saibamos que vai demorar”, sublinhou.
A próxima cimeira, acrescentou José Brito, vai decorrer em outubro de 2015 mas num país africano ainda por definir, pois a intenção é realizá-la de quatro em quatro anos em Cabo Verde, intercalada por uma outra em África.
JSD // VM – Lusa/Fim
Foto LUSA: Geo-Cosmos. Museu Nacional da Ciência e da Inovação do Japão. Japão 3 de julho de 2013. EPA/KIMIMASA MAYAMA
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