Cientista portuguesa procura origens da humanidade no centro de Moçambique

Redação, 16 mar (Lusa) – Um projeto liderado pela paleoantropóloga e primatóloga portuguesa Susana Carvalho investiga a evolução do Parque Nacional da Gorongosa, no centro do Moçambique, o território menos conhecido do vale do Rift e que pode responder a alguns dos mistérios sobre a humanidade.

A equipa da professora associada de Oxford e também diretora-adjunta de Paleontologia e Primatologia do Parque Nacional da Gorongosa (PNG) fez os seus primeiros trabalhos de avaliação do potencial da zona em meados de 2016 e tem como ponto de partida a localização da mais importante área protegida de Moçambique, situada no extremo sul do vale do Rift, que se estende para norte através do Malauí, da Tanzânia e do Quénia até à Etiópia, onde foram encontrados os achados mais importantes sobre os primeiros ancestrais do Homem.

“A Gorongosa é a única parte do Rift que ainda não foi estudada em termos de evolução humana”, afirma em entrevista à Lusa Susana Carvalho, assinalando que os levantamentos geológicos iniciais apontam para cronologias que abrangem o período de sete milhões de anos, quando surgiram os primeiros hominídeos.

O Projeto PaleoPrimata Gorongosa é composto por uma equipa “altamente multidisciplinar” de cientistas internacionais das áreas da geologia, paleontologia, paleobotânica, arqueologia, primatologia e biologia da conservação, e pretende reconstituir a evolução dos ecossistemas do Parque justamente naquele período de sete milhões de anos em que os investigadores ambicionavam trabalhar.

Com uma duração esperada de uma a duas décadas de trabalho intensivo, a investigadora observa que o Projeto pode ser “a chave para entender alguns dos factos mais obscuros da evolução humana”. Por exemplo por que as espécies de hominídeos provenientes do Vale do Rift não são as mesmas que se encontram na África do Sul.

E também revelar peças perdidas para resolver outros “puzzles”, sobre o sucesso do género Homo na adaptação e ocupação do território apesar da extinção de todos os outros ancestrais humanos: “A Gorongosa pode responder”, comenta.

Os trabalhos iniciais apontam para boas condições de fossilização num território que mantém “depósitos geológicos muito antigos” em sistemas de grutas, que convivem a par de outros ao ar livre. Ou seja misturam as características do que existe na África austral e oriental e seus cenários essenciais da história da evolução humana.

Susana Carvalho já desenvolveu trabalho anterior com a arqueologia dos primatas em África, na Guiné Conacri e no Quénia, mas a diversidade de habitats da Gorongosa é incomparável: “Nunca vi nada que se pareça – tem savana, miombo, floresta tropical, planícies aluviais, tudo”.

Tem ainda um campo de pesquisa bastante atual, que pode dar pistas sobre um passado imensamente distante, a partir da população de babuínos existentes no PNG e “como são tão bem sucedidos nesta panóplia de habitats, que requer estratégias diferentes” e depois usá-los como modelos para estudar como os primeiros hominídeos se adaptaram a habitats mosaico semelhantes ao que vemos hoje no Parque.

“A Gorongosa é o melhor sítio do mundo na minha área, porque podemos investigar o presente e o passado no mesmo espaço”, observa a investigadora, que em 2017 regressará ao terreno, onde espera identificar vários sítios arqueológicos e confirmar um já sinalizado “enorme potencial”.

HB // – Lusa/Fim

 

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