Lisboa, 12 out (Lusa) – A criação de uma cidadania CPLP e a mobilidade dos cidadãos entre os vários países de língua portuguesa são requisitos para o futuro da organização lusófona, defenderam os vários participantes num seminário sobre os 20 anos da organização.
“A aproximação da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa aos seus cidadãos é um dos maiores desafios, a questão da mobilidade é crucial”, disse o secretário executivo da CPLP, Murade Murargy, na sua intervenção no seminário, que decorreu na Assembleia da República.
Numa altura em que se aproxima a próxima cimeira da organização lusófona, marcada para 31 de outubro e 01 de novembro, em Brasília, Murade Murargy fez um balanço do seu mandato, que termina nessa altura, e lançou as suas ideias para o futuro.
“Os nossos cidadãos interrogam-se: Como é que sendo nós irmãos não podemos interagir, estudar, investigar, realizar intercâmbios culturais, realizar competições desportivas ou fazer negócios sem barreiras fronteiriças”, exemplificou.
Também o ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, Augusto Santos Silva, defendeu que a CPLP deve “pôr mais ênfase na dimensão da cidadania, como dimensão que atravessa todos os pilares, da concertação político-institucional, da língua e da cooperação”.
Para o governante português, a aposta deve ser a promoção do interconhecimento dos falantes do português.
“A língua portuguesa tem variedades linguísticas. É fundamental para preservar a compreensão interna à grande língua plural, promover o interconhecimento das diversas variedades, conhecendo as literaturas uns dos outros, falando uns com outros, frequentando universidades uns dos outros, fazendo intercambio na criação artística”, disse.
Defendeu também a melhoria das condições de circulação e mobilidade dos cidadãos, sejam eles estudantes, trabalhadores, turistas, profissionais, jornalistas e preconizou que a organização avance “em coisas concretas que permitam construir a cidadania CPLP”.
“Aquela em que é possível avançar mais depressa é na portabilidade dos direitos sociais”, afirmou Santos Silva.
O deputado Filipe Lobo d’Ávila defendeu também que a CPLP “deve ser cada vez mais um projeto de cidadania, progredir para o estatuto do cidadão da CPLP, que ainda está por concretizar, facilitar a circulação de pessoas”.
Num discurso em que afirmou haver “um défice de coordenação efetiva” entre os Estados-membros, e em que denunciou “falta de músculo político, económico, militar, diplomático e energético” na organização, o deputado da comissão de Negócios Estrangeiros e Comunidades defendeu ainda a importância da agenda digital.
Os Estados-membros ocupam posições estratégicas, a língua portuguesa é a quinta língua mais falada, tem um mercado global de 270 milhões de consumidores, espalhados por mais 10 milhões de quilómetros quadrados, pelo que “ter comunicações é tudo, é vencer descontinuidades geográficas, é aproximar uns dos outros”, afirmou.