“Gostava muito de fazer um concerto na China com uma fadista portuguesa e cantores do Brasil, Cabo Verde e outros países que falam português, para divulgar o mundo de língua portuguesa”, disse Cao Bei à agência Lusa em Pequim.
“Nas escolas fala-se de Vasco da Gama e de Fernão de Magalhães, mas os chineses não sabem que Portugal descobriu tantos países”, acrescentou.
Cao Bei não se assume, contudo, como uma cantora profissional: “Canto por gosto, não vivo disto”.
Formada em Economia e casada com um engenheiro português que conheceu no início da década de 1990 durante uma viagem no comboio Transsiberiano, entre Pequim e Moscovo, Cao Bei trabalha numa empresa de “import-export” e é essa que considera a sua “atividade mais importante”.
Filha de cantora, Cao Bei diz que sempre gostou de cantar e ainda hoje tem aulas de canto.
A primeira vez que subiu a um palco foi em outubro de 2009, no Casino de Lisboa, onde interpretou um conhecido fado de Amália Rodrigues, “Lágrima”. A última foi no Centro Cultural de Belém, no verão passado.
“Não sou fadista: canto à minha maneira e ponho sempre um pouco de Ópera de Pequim. Sou chinesa, tenho que cantar a música do meu país”, diz.
Entre os fados que mais aprecia, Cao Bei menciona o clássico “Povo que lavas no rio”, imortalizado também por Amália, mas devido às características da língua portuguesa, desistiu de o cantar: “‘Rio’, ‘paixão’ ou ‘chão’ são palavras que não consigo pronunciar bem”.
A letra de alguns fados que interpreta foi até traduzida para chinês.
Para Cao Bei, “o fado não é só tristeza”. Os seus gostos musicais parecem, aliás, bastante ecléticos: além de Amália ou Mariza, diz que gosta de Paulo Gonzo, de “country” norte-americano e dos cânticos budistas tibetanos.
A empresária-cantora chinesa vive desde 1993 numa quinta de Palmela, com o marido e dois filhos, de 13 e 14 anos, já nascidos em Portugal.
Segundo contou, lá em casa comem sobretudo pratos portugueses, que ela própria cozinha: “Adoro a comida portuguesa”.
A China, entretanto, “mudou muito” e em 2010 tornou-se mesmo a segunda maior economia do mundo, logo a seguir aos Estados Unidos.
“Todos os anos vejo mudanças. A mentalidade das pessoas também mudou. Há mais ligação ao mundo. A China hoje tem dinheiro e está orgulhosa do que conseguiu”, diz.
Portugal também já conquistou Cao Bei: “Inicialmente, não foi fácil adaptar-me, mas agora não vou sair de Portugal”.
AC // MLL.
Lusa/Fim
Foto: A chinesa Cao Bei, uma das raras estrangeiras que canta o fado em Portugal e que vive há vinte anos no país, deseja agora concretizar o percurso contrário: cantar na China, num espetáculo com artistas de língua portuguesa, Pequim, China, 04 de março de 2013. (ACOMPANHA TEXTO) ANTONIO CAEIRO/LUSA