A Língua de Camões está cada vez mais próxima dos venezuelanos e está a crescer cada vez mais
Ommyra Moreno
A Escola de Idiomas Modernos da Universidade Central da Venezuela (UCV) promove, através da fundação Fundeim, cursos de idiomas com níveis de básico a avançado, que são ministrados durante a semana e aos sábados nas instalações da universidade.
A professora Carmen González, coordenadora do departamento de Português da Fundeim, destacou, em entrevista ao CORREIO, o auge e a importância dos cursos de Língua e Cultura Portuguesa nos últimos anos. “O português é uma língua importantíssima no mundo inteiro, com um número imenso de falantes, um pouco mais de 200 milhões de pessoas. A cultura destes países é muito rica e particularmente na Venezuela, devido à nossa relação tão próxima com a comunidade luso-descendente, é conhecida e apreciada por todos cá. Mesmo que no se tenha nenhum motivo prático para aprende-lo, a experiência de entrar em contacto com outras línguas e as suas culturas enriquece-nos como seres humanos, e o português é uma língua próxima do coração dos venezuelanos”, observou.
De igual modo destacou o interesse por parte de venezuelanos e pessoas de outras nacionalidades em aprender o idioma. “No princípio, a maioria dos estudantes eram luso-descendentes que procuravam corrigir ou aprender gramática e conseguir uma certificação, mas com o tempo tudo mudou. Hoje em dia notamos que a maioria dos estudantes são venezuelanos de diferentes ascendências interessados em aprender o idioma”, disse.
González assegura que o número de estudantes de Português está a aumentar e considera que o principal factor é a proximidade com o Brasil. “O interesse por conhecer a língua aumenta, assim como também um grande número de ofertas de trabalho e de estudo que este país oferece. E também porque muitos luso-descendentes desejam aproveitar a oportunidade de poder ir para o país de origem dos pais, em busca de novas oportunidades de trabalho e de estudo, já que têm o apoio das suas famílias lá. Todo isto leva a que muitas pessoas desejem aprender e certificar a língua portuguesa”, explicou.
A professora Carmen González considera que a grande dificuldade na aprendizagem da língua portuguesa deriva das semelhanças que possui com o espanhol, o que provoca confusões, sobretudo no início da aprendizagem. “Quando há uma maior compreensão do funcionamento da língua, superam as dificuldades. Além disso há uma grande quantidade de chamados “falsos amigos”, ou palavras que se parecem a algumas do espanhol mas com um significado completamente diferente em português”.
“Em Fundeim insistimos em manter um equilíbrio entre as duas variantes, mostrando as suas diferenças e realçando as suas semelhanças, além de ensinar a cultura dos países africanos lusófonos, assim como a do Brasil e de Portugal. Pensamos que a língua portuguesa deve ser aprendida na sua totalidade, sem favorecer nenhuma variante em particular. No entanto, uma vez que o estudante tenha escolhido uma variante, é-lhe sugerido que a pratique até a aperfeiçoar”, destacou González quando questionada sobre a preferência dos estudantes entre as variantes do idioma. Também indicou que sem importar a variante, ao culminar o curso, o estudante deve ser capaz de desenvolver as quatro habilidades essenciais de qualquer idioma, isto é, ler, escrever, escutar e falar com uma compreensão avançada da língua portuguesa.
O Português é um idioma rentável
A professora Digna Tovar é uma venezuelana que faz parte do primeiro grupo de licenciados em Português pela Universidade Central da Venezuela (UCV), através da qual obteve uma bolsa no prestigiado Instituto Camões em Portugal, que se encarrega de promover intercâmbios culturais para dar a conhecer a língua portuguesa. Depois de passar um ano em Portugal, decidiu especializar-se nas universidade do Porto e de Lisboa como professora de Português, e desde então tem se dedicado ao idioma luso desde há mais de 24 anos.
Actualmente, dirige o departamento de Português da Escola de Idiomas Modernos na UCV e no instituto de línguas Proidiomas. Apesar do interesse mostrado nos últimos anos por parte dos estudantes em aprender o idioma, Tovar assegura que o quórum foi afectado pela emigração dos alunos para outros países.
É assim que envia uma mensagem clara para aqueles que ainda têm dúvidas de que é proveitoso aprender o Português. “O português é um idioma rentável e não só por ser a quarta língua mais falada no mundo senão que pelo contexto geográfico em que nos encontramos, com uma potência como o Brasil na vizinhança é sumamente importante aprender o idioma”, destacou.
Igualmente, manifestou a sua preocupação pelos estereótipos que ainda existem na sociedade venezuelana acerca dos portugueses e do idioma. “Os venezuelanos e até os próprios luso-descendentes deixam-se levar pela ideia errada que têm face aos portugueses, e portanto, vêem o português como uma língua de segunda, quando na realidade, como latino-americanos, é uma língua que todos deveriam saber, já que aprender este idioma tão importante pode ajudar a materializar grandes projectos e relaciones comerciais a longo prazo”, explicou.
A semelhança traz dificuldades
Para o professor da Fundeim Christian Luces, uma das maiores dificuldades que enfrentam os estudantes ao aprender o Português é a brecha entre a articulação de sons e a nasalidade. “O espanhol a nível fonético é muito limitado, ao contrário do português, que conta com uma variedade de articulações que produzem no estudante um conflito na hora de falar o idioma”, explica.
O docente, que também é estudante de quarto ano na Escola de Idiomas Modernos da UCV, assegura que a semelhança com o espanhol ajuda, mas também cria dificuldades aos estudantes quando tratam de integrar palavras do espanhol que em português não existem, ou não têm o mesmo sentido. Portanto, sugere afastar o espanhol do português, tanto na articulação como na gramática. “Deve-se evitar a tradução porque produz confusões, o ideal seria que o interessado se programe para pensar em português uma vez que começa a estudar o idioma”, assegura.
A recomendação que faz para os que querem melhorar a aprendizagem do idioma luso é “praticar escutando música e procurando as letras das canções; igualmente ajuda muito ler histórias em português, sobretudo crónicas, porque o vocabulário que utilizam aproxima-se muito da linguagem corrente”.
Proidiomas
Os estudantes de português de Proidiomas compartiram com o CORREIO, indicando os termos mais difíceis que tiveram de aprender em português. As dificuldades surgem com palavras que têm a letra “H” intercalada como milho, joelho e coelho e com a letra “R” como carro, rapariga ou arrumar.
A professora Maria da Conceição, assegura que o conflito em articular palavras deve-se à falta de prática da nasalidade, referindo-se ao processo fonético mediante o qual o som que usualmente é oral, se pronuncia com o velo do paladar para baixo e o fluxo de ar sai pela cavidade nasal. Portanto, aconselha-se a dar atenção a estas consonantes para que sejam entoadas as palavras com o timbre e a característica sonora correcta.
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