Cabo Verde lança livro de bolso para ajudar quem fala crioulo sem conhecer regras

Praia, 20 fev (Lusa) – Um livro de bolso para ajudar quem fala crioulo mas desconhece as suas regras gramaticais vai ser lançado quinta-feira, em Cabo Verde, para assinalar o Dia Internacional da Língua Materna.

A obra “Auto da língua cabo-verdiana” é uma iniciativa do Instituto do Património Cultural (IPC) resulta num pequeno livro elaborado por Adelaide Monteiro, linguista e investigadora deste organismo do Ministério da Cultura e das Indústrias Criativas de Cabo Verde.

Em declarações à agência Lusa, a linguista destacou o pioneirismo da obra, que foi feita a pensar em quem já fala crioulo e que o pretende fazer corretamente.

“Diz-se que o crioulo não tem gramática, mas tem, só que esta não é aprendida na escola, pois quando as crianças começam a estudar já sabem falar a sua língua materna”, explicou.

Para Adelaide Monteiro, nada do que consta no livro é novo, embora possa parecer para quem fala crioulo, obedece às regras gramaticais, sem que estas lhe tenham sido ensinadas.

A investigadora explicou que uma das razões para tantas pessoas desconhecerem a gramática explícita do crioulo é por este não ser formalmente ensinado, daí propor desta forma uma “aprendizagem informal”.

Ainda assim, Adelaide Monteiro sublinha que defende a aprendizagem formal do crioulo nas escolas e recorda que ela própria descobriu muito tarde “a ordem das palavras” que fala.

É esta organização da língua materna de Cabo Verde que a autora propõe, recordando algumas especificidades do crioulo, como a formação do plural.

“Apenas precisamos de uma marca do plural”, disse, exemplificando com a frase “três caneta”, em que o sujeito não necessita de estar no plural.

A forma dos verbos também nunca se altera, independentemente da pessoa, adiantou.

Estas duas regras gramaticais – marca do plural e forma dos verbos – são, aliás, as que mais vezes são “agredidas” na oralidade e começam agora a mostrar as suas fragilidades na escrita que tantas vezes é partilhada, nomeadamente através das redes sociais.

“Estamos a começar a usar a escrita, nomeadamente nas redes sociais. É um bom momento para começarmos a refletir a gramática e a usá-la como padrão”, disse.

Comemorado a 21 de fevereiro, o Dia Internacional da Língua Materna foi instituído pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), em 1999.

A data é comemorada em todos os países membros da Unesco, com o objetivo de salvaguardar, promover as línguas faladas pelos povos em todo o mundo.

A Unesco recorda que, vivendo em sociedades de várias línguas e multiculturais, é importante promover essa diversidade através dos vários idiomas.

“É graças a eles que nos podemos expressar, comunicar, participar da vida social e pública e transmitir de forma sustentável o conhecimento e as culturas”, segundo a mensagem deste organismo das Nações Unidas para o Dia Internacional da Língua Materna.

SMM // PVJ – Lusa/Fim
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