Lisboa, 18 jul (Lusa) – O ministro da Cultura cabo-verdiano procurou hoje envolver o Governo português na recuperação e reabilitação da Cidade Velha, em Cabo Verde, reconhecida pela Unesco como património da humanidade, um projeto na ordem dos 5 milhões de euros.
“Apresentámos um plano ambicioso no sentido de devolver à Cidade Velha alguma dignidade em termos do estatuto que lhe foi atribuído pela Unesco em 2009”, indicou à Lusa Abraão Vicente, no final de uma reunião no Ministério da Cultura com o seu homólogo português, Luís Filipe de Castro Mendes.
“A colaboração que pedimos de Portugal é técnica, mas obviamente a possibilidade também de haver um envolvimento no financiamento”, acrescentou o ministro cabo-verdiano.
O governante português reconheceu que este “é um problema de património de origem portuguesa no mundo”, pelo que a exposição do homólogo cabo-verdiano mereceu a maior atenção de Lisboa.
“Ouvimos com muita atenção”, disse o ministro português. “Estaremos dispostos a continuar a analisar a cooperação com Direção-Geral do Património Cultural e com Direção do Património Cultural de Cabo Verde”, acrescentou Castro Mendes, que se escusou a falar de outro tipo de compromissos.
“Evidentemente, da parte do Ministério da Cultura [português], a nossa parte é essencialmente de apoio técnico. É o apoio no estudo do património e em tudo o que possamos ajudar no reconhecimento e mapeamento das necessidades. Se [o envolvimento de Portugal] passar ao financiamento, isso já é um problema com a Cooperação portuguesa”, que se encontra na tutela do Ministério dos Negócios Estrangeiros, disse o governante português.
“É um problema que poderia pôr-se ao nível dos dois governos, não ao nível dos dois ministros da Cultura”, fez questão de sublinhar Castro Mendes.
O processo não se encontra, porém, ainda nessa fase. “Trouxemos um documento preliminar”, explicou Abraão Vicente. “Viemos apresentar um plano. Fizemos notar ao senhor ministro que se trata de património de origem portuguesa em território cabo-verdiano, um património que tem o ‘label’ de património da humanidade”.
O Governo cabo-verdiano manifestou ainda a “absoluta determinação em avançar com os trabalhos” – até porque o estatuto atribuído pela Unesco data já de 2009 -, e quanto ao financiamento do projeto, Abraão Vicente manifestou-se confiante na resposta positiva “de uma instituição norte-americana, o World Monument Fund, que tem um fundo que patrocina a recuperação de património já classificado como património da humanidade”.
“Vamos ter a resposta em setembro. Estamos esperançosos de que teremos parte do financiamento garantido por essa instituição. Mas o próprio Governo de Cabo Verde, através do Orçamento do Estado, irá nos próximos anos, faseadamente, garantir o financiamento”, acrescentou o governante cabo-verdiano.
“Estamos a falar de valores à volta de cinco milhões de euros para recuperar e transformar a Cidade Velha numa cidade museu, em que todas as ruínas estarão consolidadas e visitáveis. Serão museus”, disse ainda Abraão Vicente.
A Cidade Velha, ou Ribeira Grande, como foi denominada até ao século XVIII, é o “primeiro entreposto colonial europeu nos trópicos”, de acordo com a própria Unesco. Localizada a sul da ilha de Santiago, a cerca de 15 quilómetros da cidade da Praia, a localidade mantém as ruas e os edifícios originais deixados pela colonização portuguesa, incluindo duas igrejas e uma fortaleza e uma pequena praça com um pelourinho em mármore do século XVI.
Para além da recuperação da Cidade Velha, os dois ministros discutiram ainda outros projetos em curso, como a organização em Cabo Verde da Feira Literária Morabeza, em outubro e novembro próximos, e questões relacionadas com a cooperação bilateral em matéria dos Direitos Autor e Conexos.