Brasil confiante em tornar a tradição do Bumba meu Boi património cultural da Humanidade

São Paulo, 10 dez 2019 (Lusa) – O Governo brasileiro manifestou hoje otimismo sobre as hipóteses de a candidatura de o Complexo Cultural do Bumba Meu Boi do Maranhão receber o título de Património Cultural Imaterial da Humanidade da Unesco.

“Acho que a candidatura do Brasil vai ser aprovada por unanimidade. O Bumba meu Boi do Maranhão é uma manifestação cultural impressionante. Qualquer pessoa que veja o boi percebe que ele tem força”, disse Kátia Bogéa, presidente do Instituto do Património Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em entrevista à Lusa.

O Bumba meu Boi do Maranhão nasceu da diversidade histórica do Brasil da mistura da cultura portuguesa presente nas festas de devoção a São João, São Pedro e São Marçal, e elementos religiosos presentes nas culturas africana e indígena.

O Bumba meu Boi do Maranhão é um evento ritualístico que ocorre três vezes por ano para marcar o nascimento, a vida e a morte. Além de dança e da música há teatro (autos), artesanato e outros elementos envolvidos na preparação e durante as celebrações.

“A inscrição do Bumba meu Boi [como património da Unesco] vai contribuir para assegurar a visibilidade desse património cultural intangível porque apresenta ao mundo um evento de referência praticada por milénios por pessoas de diferentes partes do mundo, que tem significado universal”, explicou a presidente do Iphan.

“A celebração do boi ocorre desde a Antiguidade Clássica, começou em Creta, espalhou-se pelo Mediterrâneo e chegou ao Brasil com os portugueses. No Maranhão o [Bumba meu] Boi foi reelaborado por diferentes grupos com a participação do elemento negro, branco e indígena”, acrescentou.

Entre as representações mais conhecidas do Bumba meu Boi do Maranhão está um ato (teatral) sobre um fazendeiro português que tinha uma fazenda e um touro preto.

Um casal de negros trabalhava na fazenda e a mulher, grávida, disse ao marido que desejava comer a língua do touro preferido do patrão, convencendo-o a matar o animal.

O trabalhador atendeu a esposa, mas quando o fazendeiro português procurou seu boi de estimação ele arrependeu-se procura um ‘pajé’ (curandeiro indígena) para fazer o boi ressuscitar. Toda a história termina com uma grande festa.

“O auto do boi envolve os índios, ‘pajés’, negros, o dono da fazenda, e mostra toda esta miscigenação”, salientou Kátia Bogéa.

Segundo a presidente do Iphan, há uma outra história ligada ao Bumba meu Boi, segundo a qual o antigo Rei de Portugal Dom Sebastião, que desapareceu num deserto africano e cujo corpo nunca foi encontrado, terá avistado um touro negro mágico no meio do deserto, que rasgou a própria barriga para o rei português entrar e viver no seu corpo.

A representante do órgão de preservação cultural do Brasil lembrou que além da memória histórica dos brasileiros, a tradição do Bumba meu Boi do Maranhão, reconhecida e preservada, pode também incentivar o turismo.

“O Boi do Maranhão é o principal atrativo turístico [da região]. É o factor que mais atrai turistas. É uma manifestação cultural de uma força que reverbera e faz as pessoas quererem conhecer. Este tipo de manifestação é um poderoso instrumento do movimento turístico”, concluiu.

Nesta terça-feira, começou em Bogotá, Colômbia, a 14.ª Reunião do Comité Intergovernamental para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial, da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).

A reunião irá analisar a candidatura das manifestações culturais ligadas ao Bomba meu Boi no Maranhão, estado na região nordeste do Brasil, as Festas de inverno, Carnaval de Podence, de Portugal, a prática musical morna, de Cabo Verde, e candidaturas de outros países de todos os continentes.

CYR // JH – Lusa/Fim
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